terça-feira, 5 de abril de 2011

O QUE É A PSICOPEDAGOGIA?

I . INTRODUÇÃO

" O pior dano que se pode fazer a uma criança é levá-la a perder a confiança em sua própria capacidade de pensar ".
(Emilia Ferreiro)





Algumas definições encontradas entre os estudiosos da psicopedagogia que foram o ponto de partida para a elaboração e reflexão do conteúdo deste trabalho.
Definições
GOLBERT - (...) o objeto de estudo da psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutica. O enfoque preventivo considera o objeto de estudo da psicopedagogia a ser humano em desenvolvimento, enquanto educável. Seu objeto de estudo é a pessoa a ser educada, seus processos de desenvolvimento e as alterações de tais processos. Focaliza as possibilidades do aprender, num sentindo amplo.Não deve se restringir a uma só agência como a escola, mas ir também à família e à comunidade. Poderá esclarecer, de forma mais ou menos sistemática, a professores, pais e administradores sobre as características das diferentes etapas do desenvolvimento, sobre o progresso nos processos de aprendizagem, sobre as condições psicodinâmicas da aprendizagem. O enfoque terapêutica considera o objeto de estudo da psicopedagogia a identificação. análise, elaboração de uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem (1985, p. 13)

KIGUEL - o objeto central de estudo da psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos - bem como a influência do meio (família, escola e sociedade) no seu desenvolvimento.

NEVES - a psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar. levando sempre em conta as realidades internas e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto. E mais procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos. afetivos e sociais que lhe esteio implícitos (1991, p. 12).

RUBINSTEIN - num primeiro momento a psicopedagogia esteve voltada para a busca e o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos portadores de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a remediação e desta forma promover o desaparecimento do sintoma. E ainda, a partir do momento em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do processo de aprendizagem e a relação que a aprendiz estabelece com a mesma. o objeto da psicopedagogia passa a ser mais abrangente: a metodologia é apenas um aspecto no processo terapêutico. e o principal objetivo é a investigação de etiologia da dificuldade de aprendizagem. bem como a compreensão do processamento da aprendizagem considerando todas as variáveis que intervêm neste processo. (1992, p. 103)
SCOZ - estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades. e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento. integrando-os e sintetizando-os.
VISCA - inicialmente foi uma ação subsidiária da Medicina e da Psicologia, perfilou-se como um conhecimento independente e complementa, possuída de um objeto de estudo - o processo de aprendizagem - e de recursos diagnósticos, corretores e preventiivos próprios.
WEIS ¬ busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores.

MAS AFINAL O QUE É E POR QUÊ SURGIU A
PSICOPEDAGOGIA?
Há anos o sistema educacional permanece o mesmo, mas há mais ou menos 20 anos apareceu um novo campo de estudo chamado psicopedagogia. Por quê? Fazendo uma análise da vida familiar vemos que sua estrutura se modificou bastante e talvez de uma forma um pouco abrupta. Sabemos que a toda ação corresponde uma reação e qual é o ponto mais fraco em uma família? Claro as crianças. Somando-se esta mudança às mudanças tecnológicas que vem ocorrendo, observamos um aumento de adrenalina muito grande na medida em que parecemos estar sempre desatualizados no mundo de hoje. A cada dia novas invenções e soluções aparecem para tomar obsoletas aquelas que acabamos de aprender. Sem dúvida, apesar destas mudanças não terem ocorrido dentro do sistema. educacional, pelo menos aqui no Brasil as mudanças neste sistema vem acontecendo aos poucos e talvez de uns cinco anos para cá, elas afetam diretamente os nossos alunos, pois como veremos acontecer um aumento no fracasso escolar. conseguiam solucionar a contento estes. As ciências existentes não conseguiam solucionar a contento estes.
E a partir de então que nasce a psicopedagogia, sem estar ainda totalmente estruturada ou definida. Nasce da necessidade de solucionar problemas que não recebiam respostas positivas nos métodos tradicionais utilizados. A lacuna que estava aberta é então preenchida e o processo da aprendizagem escolar passa a ser alvo de um novo campo de estudo, a psicopedagogia.
Este trabalho vem tentar clarificar de uma forma bastante objetiva o que é a psicopedagogia e seu objeto de estudo, uma vez que as definições apresentadas acima não nos satisfizeram plenamente.

II. HISTÓRIA
No Brasil, a prática da psicopedagogia surgiu da necessidade de contribuir na questão do fracasso escolar apresentando um caráter reeducativo, assumindo ao longo do tempo um enfoque terapêutico.
Até os anos 80, a psicopedagogia tratava os sintomas apresentados pelos alunos com problemas de aprendizagem, cabia a ela remediar as dificuldade no intuito de levar o sujeito ao domínio dos conteúdos e habilidades escolares. Nesta época ainda não possuía um corpo teórico próprio.
Entre os anos 80 e 90, seu objeto de estudo passa ser o processo de aprendizagem e a preocupação em refazê-Io, uma vez que baseando-se nos trabalhos de Piaget foi possível uma melhor compreensão da estrutura e funcionamento do sujeito e a sua relação com o meio. Dando ênfase aos aspectos cognitivo, afetivo e social. Já nestes anos apresenta conceitos próprios.
Na década atual a psicopedagogia passa ser vista como uma ciência independente da psicologia e da pedagogia. Ela não é apenas a união ou interseção destas duas. Agora ela possui o seu objeto de estudo definido e com um objetivo maior. A psicopedagogia, atualmente, não se focaliza mais nos sintomas ou processo de aprendizagem para o seu
estudo, o protagonista passa a ser o ser que aprende aquele que interage com o mundo, que também apresenta o seu lado afetivo e cognitivo. Nasce, então, o SER COGNOSCENTE, aquele que será estudado e trabalhado pela psicopedagogia para que possa construir o seu conhecimento adquirindo uma autonomia e conseqüentemente uma ousadia, visando o seu crescimento. Não podemos esquecer jamais que ao mesmo tempo que o ser cognoscente possui uma integridade é também um ser múltiplo. A relação psicopedagógica se dá, portanto, entre o psicopedagogo e o ser cognoscente; ou seja, o sujeito que aprende inserido num meio ensinante.

III. A PSICOPEDAGOGIA
Dar uma definição a palavra psicopedagogia foi um trabalho árduo, pois quanto mais líamos mais complexa se tomava a sua definição. Isto porque ainda é um campo em processo de cOnstrução. Se pegarmos a definição que está no Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa o termo psicopedagogia é definido como "aplicação da psicologia experimental à pedagogia"(1992 p. VII). Na verdade a psicopedagogia é muito mais que isso pois possui um caráter interdisciplinar. Entenda-se por interdisciplinar a definição que Barker deu em o Rumo da Língua: "0 interdisciplinar, de que tanto se fala não está em confrontar disciplinas já constituídas das quais, na realidade nenhuma consente em abandonar-se. Para se fazer interdisciplinariedade, não basta tomar um "assunto " (um tema) e convocar em torno duas ou três ciências. A interdisciplinariedade consiste em criar um novo objeto novo que não pertença a ninguém (1988, p. 99).
Tendo por base esta definição podemos entender a psicopedagogia como a constituição de uma nova área que recorre aos conhecimentos da psicologia, da pedagogia, psicanálise, lingüística, fonoaudiologia em medicina, traçando o seu próprio objeto de estudo a partir de um corpo teórico próprio.
A psicopedagogia trabalha com a aprendizagem e por isso baseia-se na visão de Piaget que não considera a inteligência como algo inato, nem adquirido, mas sim o resultado de uma construção de vida à interação das pré condições do sujeito e às circunstâncias do meio social. Junta-se isto o lado afetivo tão bem desenvolvido por Freud ao estudar o inconsciente, ajudando-nos a elucidar como o ser funciona como um todo e não apenas como um gravador que registra o que acontece. O ser interage com o meio e utilizando seu lado afetivo e cognitivo constrói então o seu próprio conhecimento.
Nos perguntamos então o que é que a psicopedagogia traz de novo, uma vez que ela se utiliza de conhecimentos já existentes e porque o seu resultado é tão positivo. A resposta já está na própria pergunta. Justamente por se utilizar de vários conceitos já conhecidos e fazer com que eles interajam. A psicopedagogia conseguiu analisar o seu objeto de estudo com mais clareza e mais fidelidade uma vez que se preocupa em analisar toda as faces que o ser cognoscente apresenta.
Outro lado positivo é conseguir conciliar tão bem duas ciências aparentemente, opostas pelo abstrato e pelo concreto. como a psicanálise e a psicologia genética. Ao considerar todo o estudo de Piaget preocupado com a construção do conhecimento, como este se dá através dos limites que as fases apresentadas por Período Sensório-Motor, Pré Operacional, Operacional Concreto e Operacional Formal nos instrumentalizamos para analisar a dimensão racional deste ser. Junta-se a isto a teoria de Freud do inconsciente que nos elucida tão bem os mecanismos de defesa do Ego que podem se refletir em bloqueio de aprendizagem do ser cognoscente, e os nossos impulsos, desejos e paixão, teremos a dimensão desiderativa dando-nos, então uma visão mais complexa deste ser.
E um campo de estudo que dá certo pois prioriza a muItiplicidade deste ser que aprende. Nesta multiplicidade não podemos esquecer o vínculo que se encontrará na dimensão relacional, uma vez que sem ele é dificil estabelecer um campo onde possa haver a aprendizagem. E é neste vínculo também que se encontra o sucesso da psicopedagogia, pois é através do vínculo estabelecido entre o psicopedagogo e o ser cognoscente que haverá então a abertura para que o processo comece e que passamos levar o nosso "paciente" para o caminho que ele procura, ou seja, a sua autonomia, a sua confiança e segurança para poder aprender e crescer, pois este ser estará sempre se confrontando com o processo dialético no qual vivemos equilíbrio e desequilíbrio, erro e acerto, prazer e negação construção e "desconstrução" e por isso mesmo é importante também que despertemos nele a semente do filósofo que existe em cada de nós para que o olhar do ser sobre o mundo se torne mais frutífero.

IV. O SER COGNOSCENTE
Se faz necessário conhecer um pouco melhor este objeto de estudo da psicopedagogia que é o ser cognoscente.
Quem é o ser o ser cognoscente? É aquele que aprende. Mas aquele que aprende não é apenas- o aluno que sai de casa como o seu material e uniforme com dever de casa pronto e vai para a escola para adquirir novos conhecimentos. O ser que aprende é o todo e não apenas o cognitivo e é aí que a psicopedagogia conseguiu desatar o nó que havia no momento em que o processo de aprendizagem não se dava da forma desejada ou esperada.
Este ser é formado por 3 dimensões das quais já falamos e reforçaremos aqui para clarificá-las. Usaremos um esquema já bastante conhecido pelos psicopedagogos para representar este ser.

DIMENSÃO RELACIONAL
O ser cognoscente aprende na interação com o meio e com os outros construindo sua identidade para alcançar o conhecimento e a autonomia.
Sendo um ser contextualizado e determinado por suas condições biológicas ele interage de maneira particular, estabelecendo vínculos. Essas relações vinculares positivas ou negativas são marcadas por relações anteriores e representativas e por isso mesmo podem ser resgatadas.

DIMENSÃO COGNITIVA
A área cognitiva se refere a construção do conhecimento. Aqui nos basearemos nos estudos de Piaget. o ser constrói o seu conhecimento através de etapas que se tomam mais complexas e cada etapa posterior conterá dentro dela as anteriores. Para isso é preciso haver a interação do sujeito com o objeto pois é ai que se dá o conhecimento. Através da assimilação e posterior acomodação onde haverá então a transformação do ser, pois para Piaget a inteligência se dá na capacidade de adaptação.

DIMENSÃO AFETIVA
Todo evento psíquico é determinado por aqueles que o precederam, os acontecimentos na vida mental do sujeito podem ser furtuitivos ou não relacionadas com os que procederam, sugerindo serem apenas na aparência. Cada um destes eventos tem um significado e um significante.
O sujeito não tem autonomia de suas próprias pensamentos, o inconsciente e a própria essência da sua vida mental, sendo instituindo por moções do desejo, regido pelos princípios da realidade e do prazer.
A dimensão afetiva se articula às demais dimensões numa totalidade dinâmica gerando uma ação que organiza e modifica o meio, que termina na construção do conhecimento e do próprio sujeito cognoscente.
O nosso objeto de estudo é este ser que possui estas 3 dimensões e que por isto está sujeito a mudanças de comportamento que não eram entendidas quando apenas se concentrava-se na dimensão cognitiva ou afetiva, poucas vezes a relacional então era considerada.
É preciso estar atendo ao processo dinâmico que há na construção do conhecimento deste ser uma vez que ele influência o meio e por ele é influenciado. É muito importante lembrar que é no desequilíbrio que se faz possível a construção do conhecimento e por isso é importante estar sempre desafiando este ser para que ele possa dar um passo a frente e se sentir motivado para satisfazer a ansiedade que a falta de conhecimento nos traz, tornando¬o confiante e seguro.
Uma vez que se considera as 3 dimensões do ser é bom lembrar que a atividade criadora é uma característica importante para ele, pois ele construirá este conhecimento de uma forma onde estarão organizados os seguintes passos: perceber, discriminar, organizar, conceber, conceituar e enunciar. Temos que lembrar que este processo acontece de uma forma integrada. O que importa é que a ação sempre segue este processo o que muda é a qualidade uma vez que esta está diretamente ligada às fases de Piaget. Portanto, a qualidade do resultado deste processo será definida pela fase em que o ser cognoscente se encontra.

V. A ATUAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA
A existência da psicopedagogia parte da demanda dos problemas de aprendizagem. Por isso, a necessidade de estudar os "processo de aprendizagem". A partir deste estudo, podemos perceber a psicopedagogia como em muitas outras áreas, atuação preventiva e clínica.
Na função preventiva se objeto de estudo é o ser humano em desenvolvimento enquanto educável. Isso é, ela atua de forma ampla tanto na escola, como na família quanto na comunidade. A psicopedagogia esclarece sobre as etapas da evolução ligada aos processo de aprendizagem e as condições determinantes destas dificuldades.
No trabalha terapêutico a função da psicopedagogia é dirigida ao sujeito que aprende, como ele aprende e porquê ele aprende, além de perceber a dimensão da relação entre o psicopedagogo e sujeito de forma a favorecer a aprendizagem.
Como profissional, o psicopedagogo pode atuar em uma perspectiva preventiva ou em uma abordagem terapêutica, clínica seu trabalho pode estar ligado a uma instituição ou ser estritamente individual (em seu próprio consultório).
É bastante expressivo o número de alunos que apresenta dificuldade de ler, de ortografar, de escrever e mesmo de pensar, exigindo uma abordagem terapêutica. Dando a esse fato, fica implícito a necessidade de ação preventiva do psicopedagogo. Ocupando-se da integração do aluno na vida escolar, o psicopedagogo, é capaz de colaborar para que o aprendente estabeleça com o ato de aprender uma relação prazerosa e desafiadora.
O psicopedagogo deverá ser um profissional sensível, com domínio teórico buscando uma permanente atualização e equilíbrio emocional. Ter percepção crítica, inclusive para reconhecer os limites de sua atuação. Saber executar, acolher e ver o sujeito com um olhar para além de, valorizando a autonomia já construída resgatando o desejo de aprender e os vínculos positivos.

VI. CONCLUSÃO
Concluir um trabalho sobre o que é a psicopedagogia nos parece tarefa não muito fácil, uma vez que pensamos ser possível que esta definição que estabelecemos em nosso trabalho ainda não será a definitiva.
Já que o processo de aprendizagem se dá no desequilíbrio, talvez seja frutifico para a psicopedagogia que esta não se equilibre jamais, uma vez que a vida nos apresenta sempre situações nova, e que ela própria já mudou seu objeto de estudo por 3 vezes.
O que importa, no entanto, é que fique claro, para nós futuros psicopedagogos, que o vínculo estabelecido com o nosso cliente que é constituído por 3 dimensões e possui um ECRO (redundante falando que é só dele) e que irá interagir com o nosso ECRO, seja o caminho para toma este EU COGNOSCENTE autônomo e criativo para agir e mudar o. seu meio, sendo também mudado por ele, mas estando seguro de que este processo só o fortificará.
É por último, mas não menos importante, que possamos determinar o lugar exato da psicopedagogia no mundo atual e não deixar que ela seja considerada a panacéia para os problemas de aprendizagem, uma vez que sabemos que é preciso ter a humildade de reconhecer que nem tudo dependerá de nós.
"O termo psicopedagogia apresenta-se hoje, como uma característica especial. Quanto mais tentamos, elucidá-lo, menos claro ele nos aparece. (Bossa - 1994)

VII. BIBLIOGRAFIA

1. ALMEIDA E SILVA M. C. - Em busca de uma Fundação para a Psicopedagogia,
Rio de Janeiro PUC-RIO, Tese de Mestrado, 1992.
2. BOSSA NADIA A. - A Psicopedagogia no Brasil: Constituições a partir da Prática,
porto Alegre, 1994.
3. KIGUEL, S.M. - Abordagem Psicopedagogia da Aprendizagem
4. LAJONQUIERE, L - De Piaget a Freud para repensar as aprendizagens, 1992.
5. MAMEDE NEVES, M.A. - Psicopedagogia: Um só termos e muitas significações ¬
Revista da ABBPp, São Paulo [21] V. 10, 10 Semestre, 1991 (1987)
6. PICHON-RIVIERE E. - Teoria do vínculo, 1991
7. SCOZ, B - Psicopedagogia e Realidade Escolar, 1994.
8. VISCA, A - Psicopedagogia: Novas Contribuições, 1991






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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Os meus livros

Os meus livros

Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.
Jorge Luis Borges

o que é psicopedagogia?

O QUE É PSICOPEDAGOGIA?
João Beauclair

Vivenciar Psicopedagogia é um estado de ser e estar sempre em formação, projetação e em processo de criação.
O que é psicopedagogia? De leigos a estudantes de psicopedagogia, muitos ainda questionam sobre a função do psicopedagogo nos diversos âmbitos: educação, saúde, ação social, clínica e institucional.
Para entender o que é Psicopedagogia, acredito ser importante ir além da simples junção dos conhecimentos oriundos da Psicologia e da Pedagogia, que ocorre com bastante freqüência no senso comum, isto porque, em sua própria denominação Psicopedagogia aparece “suas partes constitutivas – psicologia + pedagogia – e que oferece uma definição reducionista a seu respeito”, como nos ensina Julia Eugenia Gonçalves .
         Na realidade, a Psicopedagogia é um campo do conhecimento que se propõe a integrar, de modo coerente, conhecimentos e princípios de diferentes Ciências Humanas  com a meta de adquirir uma ampla compreensão sobre os variados processos inerentes ao aprender humano. Enquanto área de conhecimento multidisciplinar,  interessa a Psicopedagogia compreender como ocorre os processos de aprendizagem e entender as possíveis dificuldades situadas neste movimento. Para tal, faz uso da integração e síntese de vários campos do conhecimento, tais com a Psicologia, a Psicanálise, a  Filosofia, a  Psicologia Transpessoal, a Pedagogia, a Neurologia, entre outros.

Por que a Psicopedagogia não tem seu papel claro na formação do/a Psicopedagogo/a?
Vivenciar  Psicopedagogia é um estado de ser  e estar sempre em formação, projetação e em processo de criação. Criação de sentidos para nossa própria trajetória enquanto aprendentes e ensinantes, enquanto seres viventes na complexa gama de relações que estabelecemos com o nosso tempo e espaço humano. Todas as nossas ações e produções, por serem humanas, estão sempre em processo de permanente abertura, colocadas num prisma próprio para novas interpretações e busca de significados e  sentidos, situadas num movimento incessante de desconstrução e de re-construção. Dizendo isso de uma outra forma, posso afirmar que, no nosso tempo de reconfiguração de paradigmas, os conceitos estão constantemente sendo revistos e ganhando novos significados; com a Psicopedagogia não podia ser diferente, visto que o pensar reflexivo sobre esta área do conhecimento se constitui uma das importantes tarefas a ser desempenhada por quem lhe tem como campo de ação, profissionalidade, dedicação e estudo. Mas será que realmente  a Psicopedagogia não tem seu papel claro na formação do/a Psicopedagogo/a? Ou isto é um mito que precisa ser reconsiderado?

Qual o papel do psicopedagogo nas áreas possíveis de atuação?
Sabendo que, na verdade, a Psicopedagogia é  um campo de atuação que, ao atuar de forma preventiva e terapêutica, posiciona-se para o compreender os processos do desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias áreas e estratégias pedagógicas objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir nos processos de transmissão e apropriação dos conhecimentos (possíveis dificuldades e transtornos) , o papel essencial do psicopedagogo é o de ser mediador em todo esse movimento. Se for além da simples junção dos  conhecimentos da Psicologia e da Pedagogia, o psicopedagogo pode atuar em diferentes campos de ação, situando-se tanto na Saúde como na Educação, já que seu fazer visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana, que, afinal, ocorrem em todos os espaços e tempos sociais.

O modelo argentino da psicopedagogia no trabalho multidisciplinar em hospitais e escolas é institucionalizado. No Brasil apesar de se falar muito no trabalho multidisciplinar, pouco se vê desta atuação. Você acredita que somente com a regulamentação da profissão isto se  tornará uma realidade?
Talvez o trabalho multidisciplinar institucionalizado ainda não seja prática  comum nem mesmo em outros países, com raras exceções, evidentemente. O paradigma cartesiano-positivista ainda é o grande entrave a ser superado para que se possa pensar em um outro modo de fazer ciência e cuidar das pessoas. É necessário um processo longo, a ser vivenciado ainda por um bom tempo como desafio a ser superado. O modelo argentino de Psicopedagogia, com o trabalho multidisciplinar em hospitais e escolas também teve sua trajetória de luta, como em muitos momentos nos apontaram Jorge Visca e  Alícia Fernandéz. Realmente em nosso país, esta atuação ainda é restrita de fato. E um ponto essencial para tal é a regulamentação da profissão: esta questão é primordial para o avançar da profissionalidade do psicopedagogo. A meu ver, é um processo muito rico a ser vivido por todos nós psicopedagogos.

Ao falarmos de transdisciplinaridade na Psicopedagogia, pressupomos que a prática e o olhar psicopedagógico objetivem: aceitar um novo paradigma; ter preparação teórica adequada; possuir conhecimento prático suficiente; estar capacitado pedagogicamente e psicopedagogicamente; ser aberto e criativo; conhecer as novas tecnologias; atualizar-se permanentemente; entender e aceitar a diversidade discente. Em sua experiência acadêmica, isto é ensinado nos cursos de psicopedagogia?
Se não é ensinado, pelo menos vivenciado enquanto perspectiva, caminho a ser trilhado não resta a menor dúvida. Compreendo que o psicopedagogo é um pesquisador permanente, um sujeito que, a cada movimento, ação e conduta enquanto profissional, busca alternativas para os dilemas, tensões, limites que lhe surgem, vislumbrando sempre novas possibilidades.  E tudo é processo, movimento. Precisamos acreditar, cada vez mais, no ensinamento de nossa mestra Ivani Fazenda, que nos diz da importância da espera, da humildade, do conduzir-se com harmonia e perseverança em tudo o que se refere a mudanças de paradigmas. O cuidado maior, a meu ver, deve ser efetivamente, com a proliferação dos cursos de Psicopedagogia pelo Brasil sem as devidas orientações. A ABPp esforça-se, de modo contundente, em mostrar o quanto é necessário ter preparação teórica adequada e possuir conhecimento prático suficiente, além de sugerir caminhos para a organização curricular de cursos de especialização em Psicopedagogia. Na minha vivência, enquanto docente da área em diferentes cursos de formação em Psicopedagogia no país, observo o esforço imenso em fazer o melhor, pois afinal estar capacitado pedagogicamente e psicopedagogicamente, ser aberto e criativo, conhecer as novas tecnologias, atualizar-se permanentemente; entender e aceitar a diversidade discente são desafios imensos, para uma vida inteira. O essencial,  acredito, é o desejar fazer o melhor possível e neste desejar, realizar.

Em julho próximo, no Fórum da ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia, você estará lançando o primeiro livro da Coleção “Olhar Psicopedagógico”, da Editora WAK, do Rio de Janeiro, com o tema “Psicopedagogia: trabalhando competências, criando Habilidades”. Por quê a escolha deste tema?
A Coleção Olhar Psicopedagógico é uma aposta na continuidade da produção acadêmica e no surgimento e divulgação de novos autores em Psicopedagogia no Brasil. Em São Paulo, no  ano passado, ao participar como conferencista convidado e docente de um curso  sobre a construção do olhar do Psicopedagogo no II Congresso Latino Americano de Psicopedagogia promovido pela ABPP, numa conversa informal, Alícia Fernandez me falou sobre como o Brasil, por sua diversidade e criatividade, pode e tem contribuído para a avançar do campo psicopedagógico. A escolha do tema talvez esteja vinculada a isso: nos meus processos de autoria de pensamento, também posso contribuir para o debate, posso elaborar outras possibilidades, evidenciar outros aspectos à reflexão. Ter competências e habilidades em nossos fazeres cotidianos, tanto nos espaços clínicos e/ou institucionais é questão primordial para nossa própria vivência e sobrevivência enquanto formadores e profissionais em Psicopedagogia.

Qual a importância em se debater este tema e quais são as competências e habilidades do psicopedagogo?
A importância em se debater este tema reside, a meu ver, na busca mesma do reconhecimento e da importância da atuação do psicopedagogo em nosso tempo presente.  O que está construído neste meu livro é um referencial, uma matriz de competências, vinculadas a habilidades básicas para o seu desenvolvimento. Aqui não me cabe, por questões de espaço e  lugar, ampliar e desenvolver todas elas, mas a primeira destas competências está voltada para a necessidade do psicopedagogo estabelecer elos de conexão com as principais articulações e correntes teóricas contemporâneas, propondo-se a busca permanente da teoria na construção de suas práticas profissionais, principalmente no que concerne aos pressupostos da transdisciplinaridade e da complexidade. E a última está vinculada ao vivenciar, efetivamente, em sua vida pessoal cotidiana a máxima de ser um eterno aprendiz, exercendo nesta vivência senso crítico, humildade, serenidade, escuta, espera, olhar atento, intuição e novas formas de compreensão da complexidade inerente aos diferentes aspectos da  realidade. Para cada competência – elas são sete, há uma proposta de três habilidades básicas, ou seja, no livro há uma matriz de competências com as habilidades básicas para cada uma delas. O continuar deste meu trabalho agora está na elaboração de estratégias facilitadoras deste movimento. Meu desejo é contribuir para o debate e abrir outras possibilidades de interlocução.  

Estamos sabendo que outros livros virão, poderia nos adiantar quais serão os temas?
Como coordenador da coleção, discuto com o Pedro, nosso editor da WAK, sobre os temas que acreditamos ser de fundamental importância atualmente no campo da Psicopedagogia no Brasil. O próximo volume, que dependendo de todo um processo que estamos vivendo agora, poderá também ser lançado no Fórum da ABPp em julho e contém artigos de diferentes autores que atuam em distintos estados brasileiros. É um volume intitulado Psicopedagogia: espaço de ação, construção de saberes, onde teremos artigos de Ieda Boechat, José Artur Bastos, Julia Eugenia Gonçalves, Dulce Consuelo, Elizabeth Borges, Adriana Schimidt e um texto de minha autoria com temas vinculados ao aprofundamento psicopedagógico. O terceiro volume, sobre Psicopedagogia Institucional e ainda sem título definido também já está sendo organizado, com artigos de Maria Irene Maluf, Simaia Sampaio, Geni Lima, Maria Taís de Melo, Márcia Siqueira de Andrade,  Julia Eugenia Gonçalves e um outro artigo meu onde relato sobre uma experiência de formação em Psicopedagogia Institucional vivenciada recentemente. O quarto volume, ainda sem autores efetivamente confirmados, ainda está em elaboração e em processo de seleção de artigos e tratará sobre o tema “dificuldades” em aprendizagem e as possibilidades de intervenção do psicopedagogo. É um trabalho muito gratificante e nossa contribuição pretende ser a melhor possível, afinal, é uma maneira de estarmos auxiliando no reconhecimento de nossa própria área de formação e atuação, que tanto nos estimula a irmos adiante em nossa trajetória enquanto aprendente e ensinantes.

Você participa de grupos de discussão através da Internet? Como tem sido sua experiência?
Este pergunta é muito interessante. Sempre brinco em minhas palestras, cursos, conferências e oficinas que eu divido a minha trajetória enquanto aprendenteensinante  em dois momentos distintos: em a.C. e d.C. , ou seja, antes e depois do computador em minha vida, pois tal tecnologia me permitiu e ainda me permite ampliar perspectivas de aprendizagem e o que considero fascinante: as possibilidades de aproximação que temos com os que atuam e se interessam pelos temas que estudamos e dedicamos nossas pesquisas e leituras. Meu encontro com a Psicopedagogia se deu desta forma, através de um desses encontros: Julia Eugenia Gonçalves, atualmente presidente da Fundação Aprender, em Varginha, Minas Gerais, é moderadora de um grupo de discussão que eu participo faz anos e nossos intercâmbios sempre foram excelentes. Recentemente fui convidado pela Dr. Márcia Siqueira de Andrade, do Instituto de Psicopedagogia da UNISA, a participar de um outro grupo, o ILAPp, e novos intercâmbios estão sendo feitos, novas aproximações e contatos estão surgindo, inclusive com a possibilidade de termos, desta forma, novas idéias para outros volumes da Coleção Olhar Psicopedagógico e outros projetos em comum: é o que eu chamo sempre de aprendizagem colaborativa.  Também modero duas listas de discussão no yahoogrupos, onde troco e-mails com alunos, colegas de trabalho, divulgo eventos em educação, temas interessantes em Psicopedagogia, bibliografias, lançamentos de livros, indicação de sites, fóruns, congressos, enfim, estimulo outras pessoas a participarem desta rede fundamental ao nosso ser e estar no mundo, ampliando sempre nossos movimentos e exercendo nossas competências  e sensibilidades solidárias, como nos ensina Hugo Assmann e Jung Mo Sung. Isto sem falar no meu próprio site, www.profjoaoabeauclair.kit.net , onde divulgo minhas ações de consultoria e oficinas de formação em educação e psicopedagogia.

Faz-se Psicopedagogia nesta mídia interativa?
A Internet é efetivamente uma mídia interativa fabulosa e essencial ao nosso tempo presente. Talvez não possa afirmar definitivamente que se faz Psicopedagogia com esta mídia interativa de forma direta, mas que com certeza é  ferramenta de importância ímpar para  o seu desenvolvimento, isso é inegável. Mas, infelizmente, ainda há, por incrível que pareça resistência em relação ao seu uso com este objetivo. Mas, não tenhamos pressa, afinal, como nos ensina o poeta espanhol Antonio Machado, “caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar.”  Adelante!


Leia sinopse do livro "PSICOPEDAGOGIA - TRABALHANDO COMPETÊNCIAS, CRIANDO HABILIDADES" Autor:JOÃO BEAUCLAIR; Editora: WAK EDITORA entrando no endereço: http://www.psicopedagogia.com.br/lancamento/lancamento.shtml
Publicado em 29/06/2004 16:57:00

João Beauclair - Doutorando em Intervenção Psicossocioeducativa pela Universidade de Vigo,Campus de Ourense, Galícia Espanha. Palestrante e Conferencista Internacional. Autor de vários livros sobre Educação e Psicopedagogia; Professor convidado por diversas instituições ministrar cursos de Pós-graduação em Educação e Psicopedagogia em diferentes regiões do Brasil; Escritor, Arte-educador,  Psicopedagogo, Mestre em Educação.
homepage: http://www.profjoaobeauclair.net/

A Psicopedagogia e a psicanálise

A PSICOPEDAGOGIA E A PSICANÁLISE
Ana Lisete Frontini Pereira Rodrigues

Acredito que para trabalhar a aprendizagem, é necessário conhecer a teoria psicanalítica, uma vez que ela auxilia o entendimento do ser e de seus relacionamentos, e portanto de seu mundo, o que se mostra fundamental para o trabalho do profissional
Por que a escolha da psicanálise para embasar seu trabalho psicopedagógico?
Após ter militado nas diferentes áreas do conhecimento por meio de grupos de estudo e supervisões e não ter encontrado respostas para todas as minhas indagações, busquei a Psicanálise para embasar meu trabalho, por ser um referencial teórico fundamental sobre a mente humana. A Psicanálise foi buscada por mim por meio do estudo de Freud e isso me levou a conhecer os trabalhos desenvolvidos por Melaine Klein e Bion.
Acredito que o estudo da Psicanálise é uma forma de lidar com a personalidade inigualável, pois possibilita conhecer o ser humano, o modo como este se conhece, seu objeto de desejo, seus impulsos e seus valores. Enfim, permite conhecer a estrutura do mundo mental e sua organização. Acredito que para trabalhar a aprendizagem, é necessário conhecer a teoria psicanalítica, uma vez que ela auxilia o entendimento do ser e de seus relacionamentos, e portanto de seu mundo, o que se mostra fundamental para o trabalho do profissional.

Quais são os pontos de contribuições da psicanálise para a psicopedagogia?
As principais contribuições da Psicanálise a Psicopedagogia abrangem fundamentalmente o funcionamento e a dinâmica da estrutura da personalidade, o modo como cada indivíduo lida com seus impulsos e desejos (função do id), a maneira que cada aprendiz lida com a percepção de si (função egóica), o modo como a criança, o adolescente ou o adulto lidam com seus objetos internos, o modo como cada pessoa valoriza ou não seus objetos internos (função superegóica) e a maneira como valoriza e aproveita seus valores adquiridos de seus pais, professores, amigos, etc.
A Psicanálise auxilia o psicopedagogo a dar um significado maior ao vínculo e à relação com o indivíduo que ele atua. Existem pessoas que necessitam serem trabalhadas com uma metodologia psicanalítica mais clássica para lidar com suas dificuldades, e portanto podem ser beneficiadas pelo uso da associação livre. Há outras metodologias de trabalho aplicadas em crianças e adolescentes que resolvem suas dificuldades por meio de jogos e atividades artísticas que também contribuem para o progresso do indivíduo.
O psicopedagogo precisa estar atento para perceber que tipo de metodologia deverá utilizar em cada cliente/paciente. Para isso é importante analisar o vínculo que estabelecemos com cada paciente, suas necessidades e a maneira de trabalhar que combina melhor com suas características individuais e/ou sociais.
No caso da Psicopedagogia, o que determina qual a linha de trabalho, além das mencionadas acima, são os valores familiares, os valores da escola que o indivíduo estuda, e sua cultura.

O psicopedagogo não corre o risco de estar fazendo uma terapia emocional e deixar de lado a sua função que é lidar com a aprendizagem?
Se o psicopedagogo for um investigador das necessidades da criança ou do adolescente que for procurá-lo ao consultório, ele saberá distinguir essas diferentes funções sem prejuízo dos seus objetivos. Ao lidar com a aprendizagem, o efeito terapêutico acaba ocorrendo naturalmente quando há cuidados com a linha teórica escolhida. No entanto, ele é secundário. É importante entender como o indivíduo se conhece como pessoa, como ele se vê e qual seu envolvimento com o mundo ao seu redor, mas isso não representa deixar de lado a função de lidar com a aprendizagem. Apenas ajuda a alcançar êxito nessa tarefa de um modo mais simples, mais claro e portanto mais eficiente. Acredito que isso possa ocorrer quando se tem em mente que as pessoas são um todo, isto é, possuem seu mundo mental e suas organizações social e cultural.
Precisamos sempre ter claro que o uso de diferentes metodologias deve ser feito não por submissão ao método, mas porque acreditamos nele. É por isso que o psicopedagogo tem que saber com quem está lidando, quem é seu paciente, como ele vê os seus desejos, os valores adquiridos, e conseqüentemente a aprendizagem, para poder assim, escolher o método que considera mais adequado para cada paciente.
Profissionais da psicopedagogia que vem de outras áreas como: pedagogos, fonoaudiólogos não tiveram a psicanálise como fonte teórica. Qual a necessidade do psicopedagogo optar por uma teoria?
A diferente origem dos atuais profissionais da Psicopedagogia é algo que me preocupa muito. O psicopedagogo advindo da área de saúde ou da educação, que são áreas afins, deverá buscar uma linha teórica que se identifique mais com ele como indivíduo. Além disso, ao se aprofundar em alguma linha específica, o profissional poderá utilizá-la cada vez melhor. É isso que diferencia um bom profissional de outro e cria sua identidade de psicopedagogo diferenciada e única. Acredito que o processo deverá ser criativo, mas um referencial teórico é fundamental para o embasamento do profissional, que não deve cair no erro de ser eclético, isto é, saber um pouco de tudo e não se aprofundar em nada.
O conhecimento cuidadoso e constante transformará o psicopedagogo num profissional cada vez mais qualificado.
Qual foi o caminho que você percorreu na sua formação pessoal em psicopedagogia?
Durante meu curso de psicopedagogia, percebi que o mundo mental não era tão simples quanto eu estava olhando. Vi assim a necessidade de aprofundar-me, e desta forma fiz supervisões durante todo o período que fiz o curso, tanto as dadas durante o curso, como também nas áreas psicomotora, cognitiva e familiar, com outros profissionais advindos de minha formação.
Comecei estudando os autores ligados a psicomotricidade e depois fiz grupos de estudo de Lowen, Melaine Klein, Jung. Fiz também um estudo de linguagem não verbal por vários anos e atualmente continuo a estudar, porque acho que um bom referencial teórico é importante, e a fazer supervisões que permitem analisar a prática desses referenciais. Estou terminando um grupo de estudo sobre Freud e sua obra completa. Por isso acredito que quando busquei a Psicanálise para entender a estrutura da personalidade, eu já tinha um bom referencial teórico.

Qual a importância para o profissional da psicopedagogia o trabalho pessoal? Por quanto tempo se deve fazê-lo?
O trabalho pessoal a meu ver é necessário e eu questiono se não seria também fundamental. Acredito que o tempo de terapia ou de psicanálise dependerá de vários fatores, e que é onipotente um profissional querer determinar sua exata duração. Na verdade o tempo irá depender das características de cada pessoa. Assim percebe-se porque é difícil determinar o tempo exato para o trabalho com qualquer um de nossos pacientes.
O essencial é que nós profissionais nos conheçamos bem para saber como lidar com nossa clientela. Quem não passa por um processo terapêutico dificilmente conseguirá entender o ser humano na sua essência. Eu percebo também que a supervisão é indispensável ao longo do trabalho. Você precisa reconhecer no seu dia-a-dia, por exemplo, o que é uma identificação projetiva e não apenas conhecê-la na teoria. Isso é um trabalho que requer grandes investimentos, mas é sem dúvida nenhuma o que diferencia um profissional qualificado dos demais sendo por isso extremamente necessário.
Outra questão que sempre vejo quando se discute esse tema é a reflexão sobre a possibilidade de fazer psicanálise em grupo. Ao meu ver, se estivermos na busca individual do conhecimento mental e de suas organizações, não é possível que o alcancemos com um trabalho em grupo. Mas isso é tema para uma discussão posterior em outra entrevista.
Quais são os problemas de aprendizagem mais comuns observados por você?
Cada ano que passa, percebo que tanto a criança como o adolescente e o adulto apresentam uma configuração muito mais complexa de suas dificuldades de aprendizagem. Acredito que isto esteja ligado aos atuais problemas sociais, ao emocional, ao cognitivo, e não exclusivamente ao psicopedagógico. Essa dificuldade também abrange o uso da auto imagem. É devido a isso que, para mim, os problemas de aprendizagem, e portanto as dificuldades cognitivas geralmente não vêm desvinculadas da problemática emocional.
Percebo também que as dificuldades de se vincular com os conhecimentos de modo geral podem ser também uma conseqüência da dificuldade de lidar com as pessoas. A curiosidade pelo desconhecido é inata no ser humano, todo mundo se mostra curioso com o novo, e a criança que não tem curiosidade, que se mostra "preguiçosa", certamente tem alguma coisa que não está adequada.

Qual a responsabilidade da escola no quadro atual?
A escola deverá se preocupar com a formação do aluno e com a cultura que ele está inserido. Para tal, deverá também estar sempre atenta ao ritmo de aprendizagem de cada um de seus alunos. Percebo que algumas escolas estão muito preocupadas com o conteúdo. Acredito que isso seja uma conseqüência da sociedade que vivemos, cada vez mais competitiva. As escolas não deveriam se esquecer do ritmo de aprendizagem da criança, da boa estrutura do pensamento, da lógica no raciocínio e da utilização de uma linguagem cada vez mais adequada para ser usada ao longo da vida. Com esses pré-requisitos qualquer pessoa poderá se aprofundar no conhecimento que quiser, respeitando-se suas individualidades e seus diferentes talentos. A melhor instrumentalização para tudo isso, é o papel que a escola deverá desempenhar.
Generalizando, podemos dizer que normalmente não são as escolas que são fortes ou fracas, adequadas ou inadequadas, como muitos gostam de rotular, mas na verdade cada criança, cada família, necessita de um tipo de escola. Cada pessoa tem um perfil, assim como a escola.

Qual o papel do psicopedagogo na orientação de escolas para o paciente?
O papel do psicopedagogo é evitar o troca-troca de escola que é a princípio contraproducente. É preciso buscar a escola correta para determinado paciente e para isso a orientação familiar é básica, principalmente na questão dos valores que esta família tem, no que ela acredita.
É necessário que se faça uma análise deste paciente para saber se a escola está adequada à família e vice-versa. Vejo casos de famílias que acabam colocando o filho em escolas com valores opostos aos seus, o que é prejudicial. Aproximadamente aos 11 anos de idade, a criança passa por uma época em que se refaz o complexo de Édipo e, portanto, se reorganiza sua personalidade. É também nesta época, que as escolas deixam de respeitar o ritmo individual de seus alunos, acreditando que eles estão mais aptos a terem um ritmo social de aprendizagem. Essa etapa deverá ser vista com bastante cuidado tanto pela família quanto pela escola.
Quando esta etapa não ocorre com tranqüilidade, e as escolas percebem que as crianças não estão aptas ao ritmo social de aprendizagem, aparece o momento em que o psicopedagogo deverá interferir.

Ana Lisete Frontini Pereira Rodrigues - Pedagoga e Psicopedagoga formada pelo Instituto Sedes Sapientiae. Formação Psicanalítica. Desenvolve trabalho clínico. Vice-Presidente da ABPp 1992/1994. Diretora Cultural e Conselheira da ABPp 1999/2000 Ana Lisete Frontini Pereira Rodrigues

domingo, 3 de abril de 2011

Doenças psicossomáticas

O QUE SÃO DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS?

Poderíamos dizer ,que um fatôr emocional afeta o equilíbrio afetivo,gerando um desequilíbrio.
Quando nos desequilibramos afetivamente,afetamos o tônus vascular;o das vias respiratórias por exemplo,aonde se alojam bactérias e/ou vírus,o que nos faz desenvolver resfriados constantes,por exemplo.
Então,dizemos que os estados emocionais interferem na resistÊncia de nosso organismo,que estando em baixa,"abre as portas"para a instalação de doenças. Daí,a somatização e as doenças psicossomáticas.
Para que possamos rotulalas dessa forma,há a necessidade de se estabelecer uma relação entre o conflito existente e a doença. Até na´própia
formação desta.
Não podemos dizer,que conflitos não provocam manifestações somáticas.
O sistema nervoso exerce poder sobre a imunidade orgânica,daí,o se dar uma importância muito grande para o "stress".
As pressões ,as "agressões" sofridas pelo meio ambiente externo,desencadeiam no indivíduo uma tensão constante. Essa constância,pode levar à produção de transtornos no funcionamento do organismo,(transtornos crônicos) e, depois,à uma lesão orgânica,como no caso de úlceras e gatrites.
A Psicanálise,nos permite compreender estes transtornos,à partir da análise da relação do indivíduo com o meio ambiente social,por exemplo,estudando o papel das frustrações por carência afetiva precoce.
É necessário que se stente para o fato de não podermos ngar as alterações que sentimos em nosso organismo no dia a dia.
Não podemos simplesmente afirmar que o sujeito está "chamando a atenção",que é apenas psicológico,que este nada têm,só quer estra em evidência.
Precisamos cada vez mais de informações sobre o quanto o emocional interfere em nosso organismo.
Não devemos simplesmente rotular o outro e assimilar as idéias que o senso-comum nos traz.
Informen-se,questionem,leiam.
Tudo isso leva ao conhecimento,ao aumento de cultura adquirida e um "olhar respeitoso ao próximo" !!!!!!!!!!!!!
Ao usar este artigo, mantenha os links e faça referência ao autor:
O QUE SÃO DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS? publicado 14/03/2011 por Thais De Vincenzo Schultheisz em http://www.webartigos.com/



Fonte: http://www.webartigos.com/articles/61277/1/O-QUE-SAO-DOENCAS-PSICOSSOMATICAS/pagina1.html#ixzz1IW2FVNfZ

PSICOPEDAGOGIA: EM BUSCA DO SUJEITO AUTOR

                                           Somos todos anjos de uma asa só, e só podemos
                                           alçar voo se estivermos abraçados uns aos outros.
                                                                                                (Léo Buscáglia)


             O sujeito autor é aquele que constrói a autoria não só por conteúdos acadêmicos e,sim, aquele que se autoriza a construir e conduzir a sua própria vida,tendo como base seus valores primeiros.O sujeito com autoria que se institui e se faz presente por meio de um "corpo " que sente, existe, ama e proclama sua liberdade de ser, de estar e viver no eterno presente , no eterno agora.
                                  Fernandez define autoria como       
                                  o processo e o ato de produção de sentidos e de reconhecimento de              
                                  si mesmo como protagonista ou participante de tal produção.(...) um sujeito   
                                  que não se reconheça  autor pouco poderá manter sua autoria.(2001:90)
          Para a autora, o sujeitoque não é capaz de manter sua autoria não poderá ser responsável por ela e tampouco compartilhá-la. Ainda , autoria de pensamento é condição para autonomia do sujeito e ambas (autonomia e autoria) se alimentam mutuamente em relação a reciprocidade.
          Portanto, pensamos que o ser humano que faz sua autoria se humaniza e não se maquiniza. Decide viver por meio do seu próprio olhar, do seu próprio viver, do seu próprio criar.Edifica sua vida com arte porque esta arte/vida é fruto do seu próprio sonho. Morin nos diz que
                                   o indivíduo humano pode dispor da consciência de si, capacidade de se considerar como objeto sem deixar de ser sujeito. o pleno desenvolvimento do pensamento comporta sua própria reflexibilidade: a consciência pode atuar sobre o ser humano refletindo sobre si mesmo, ou atuar sobre o próprio conhecimento, tornando-se conhecimento do conhecimento.(2002:39)
    Fernandez (2001) anuncia que a autoria de pensamento é algo imprescidível  para que o sujeito seja conectado com a condição humana mais valiosa de liberdade. E, somente um trabalho psicopedagógico  com mestres, professores e profissionais da educação poderia levar à construção de laços de solidariedade que possibilitassem alguma autoria de pensamento e autonomia que hoje não faz parte do cotidiano pedagógico. Consequentemente,os alunos teria na escola um espaço de reflexão e construção de sua própria autoria e autonomia.
     Corroboramos com pensamento da autora e entendemos que a nossa proposta consiste em um dos pilares do trabalho psicopedagógico sugerido por Fernandez. Nosso trajeto pessoal  nos leva a afirmar que, para que esta autoria floresça ou ao menos seja dado um primeiro passo em sua busca,devemos tomar o caminho da ressignificação dos valores do professor.
      Observa-se que , se olharmos para nossos valores, perceberemos que eles nos fazem confessar de onde viemos, onde estamos, para onde desejamos ir e o que desejamos ser.

                                                         Bibliografia(Extraído livro: De Professor a Educador)
                                                         ALVES Maria Dolores Forte

.O bom professor

O sábio confúcio estava meditando à sombra de uma árvore, quando foi interrompido por alguns de seus discípulos que queriam lhe fazer perguntas. "Oque é um bom professor?, questionaram. Confúcio
respondeu: " O bom professor é o que examina tudo aquilo que ensina para os seus alunos . As ideias antigas não podem escravizar o pensamento do homem,porque elas se adaptam e ganham novas formas.Então, tomemos a riqueza filosófica do passado,sem jamais perder de vista os novos desafios que o mundo presente nos propõe.

                                          MAKTUB
                                          PAULO COELHO        

sábado, 2 de abril de 2011

Carta aos Pais

Também sou pai e portanto compreendo. Vocês querem o melhor para o filho, para a filha. A melhor escola, os melhores professores, os melhores colegas. Vocês querem que filhos e filhas fiquem bem preparados para a vida. A vida é dura e só sobrevivem os mais aptos. É preciso ter uma boa educação.

Destinatário

Equipe escolar e pais

Uso

Reflexão em reuniões de pais, professores e lideranças da escola.

Compreendo, portanto, que vocês tenham torcido o nariz ao saber que a escola ia adotar uma política estranha: colocar crianças deficientes nas mesmas classes das crianças normais. Os seus narizes torcidos disseram o seguinte: Não gostamos. Não deveria ser assim! O problema começa com o fato de as crianças deficientes serem fisicamente diferentes das outras, chegando mesmo, por vezes, a ter uma aparência esquisita. E isso cria, de saída, um mal-estar... digamos... estético. Vê-las não é uma experiência agradável. É preciso se acostumar... Para complicar há o fato de as crianças deficientes serem mais lerdas: elas aprendem devagar. As professoras vão ser forçadas a diminuir o ritmo do programa para que elas não fiquem para trás. E isso, evidentemente, trará prejuízos para nossos filhos e filhas, normais, bonitos, inteligentes. É preciso ser realista; a escola é uma maratona para se passar no vestibular. É para isso que elas existem. Quem fica para trás não entra... O certo mesmo seria ter escolas especializadas, separadas, onde os deficientes aprenderiam o que podem aprender, sem atrapalhar os outros.
Se é assim que vocês pensam eu lhes digo: Tratem de mudar sua maneira de pensar rapidamente porque, caso contrário, vocês irão colher frutos muito amargos no futuro. Porque, quer vocês queiram quer não, o tempo se encarregará de fazê-los deficientes.
É possível que na sua casa, num lugar de destaque, em meio às peças de decoração, esteja um exemplar das Escrituras Sagradas. Via de regra a Bíblia está lá por superstição. As pessoas acreditam que Deus vai proteger.
Se assim fosse, melhor que seguro de vida seria levar uma Bíblia sempre no bolso. Não sei se vocês a lêem. Deveriam. E sugiro um poema sombrio, triste e verdadeiro do livro de Eclesiastes. O autor, já velho, aconselha os moços a pensar na velhice.
Lembra-te do Criador na tua mocidade, antes que cheguem os dias das dores e se aproximem os anos dos quais dirás: "Não tenho mais alegrias..." Antes que se escureça a luz do sol, da lua e das estrelas e voltem as nuvens depois da chuva... Antes que os guardas da casa comecem a tremer e os homens fortes a ficar curvados... Antes que as mós sejam poucas e pararem de moer... Antes que a escuridão envolva os que olham pelas janelas... Antes que as pessoas se levantem com o canto dos pássaros... Antes que cessem todas as canções... Então se terá medo das alturas e se terá medo de andar nos caminhos planos... Quando a amendoeira florescer com suas flores brancas, quando um simples gafanhoto ficar pesado e as alcaparras não tiverem mais gosto... Antes que se rompa o fio de prata e se despedace a taça de ouro e se quebre o cântaro junto à fonte e se parta a roldana do poço e o pó volte à terra... Brumas, brumas, tudo são brumas... (Eclesiastes 12: 1-8)
Os semitas eram poetas. Escreviam por meio de metáforas. Metáfora é uma palavra que sugere uma outra. Tudo o que está escrito nesse poema se refere a você, a mim, a todos. Antes que se escureça a luz do sol... Sim, chegará o momento em que os seus olhos não verão como viam na mocidade. Os seus braços ficarão fracos e tremerão no seu corpo curvo. As mós - seus dentes - não mais moerão por serem poucos. E a cama pela manhã, tão gostosa no tempo da mocidade, ficará incômoda. Você se levantará tão cedo quanto os pássaros e terá medo de andar por não ver direito o caminho. É preciso ser prudente porque os velhos caem com facilidade por causa de suas pernas bambas e podem quebrar a cabeça do fêmur.
Pode até ser que você venha a precisar de uma bengala. Por acaso os moinhos pararão de moer? Não, os moinhos não param de moer. Mas você parará de ouvir. Você está surdo. Seu mundo ficará cada vez mais silencioso.
E conversar ficará penoso. Você verá que todos estão rindo. Alguém disse uma coisa engraçada. Mas você não ouviu. Você rirá, não por ter achado graça, mas para que os outros não percebam que você está surdo. Você imaginou uma velhice gostosa. E até comprou um sítio com piscina e árvores. Ah! Que coisa boa, os netos todos reunidos no "Sítio do Vovô", nos fins de semana! Esqueça. Os interesses dos netos são outros. Eles não gostam de conviver com deficientes. Eles não aprenderam a conviver com deficientes. Poderiam ter aprendido na escola mas não aprenderam porque houve pais que protestaram contra a presença dos deficientes. A primeira tarefa da educação é ensinar as crianças a serem elas mesmas. Isso é extremamente difícil.
Fernando Pessoa diz: Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim. Frequentemente as escolas esmagam os desejos das crianças com os desejos dos outros que lhes são impostos. O programa da escola, aquela série de saberes que as professoras tentam ensinar, representa os desejos de um outro, que não a criança. Talvez um burocrata que pouco entende dos desejos das crianças. É preciso que as escolas ensinem as crianças a tomar consciência dos seus sonhos! A segunda tarefa da educação é ensinar a conviver. A vida é convivência com uma fantástica variedade de seres, seres humanos, velhos, adultos, crianças, das mais variadas raças, das mais variadas culturas, das mais variadas línguas, animais, plantas, estrelas... Conviver é viver bem em meio a essa diversidade. E parte dessa diversidade são as pessoas portadores de alguma deficiência ou diferença.
Elas fazem parte do nosso mundo. Elas têm o direito de estar aqui. Elas têm direito à felicidade. Sugiro que vocês leiam um livrinho que escrevi para crianças, faz muito tempo: Como nasceu a alegria. É sobre uma flor num jardim de flores maravilhosas que, ao desabrochar, teve uma de suas pétalas cortada por um espinho. Se o seu filho ou sua filha não aprender a conviver com a diferença, com os portadores de deficiência, e a ser seus companheiros e amigos, garanto-lhes: eles serão pessoas empobrecidas e vazias de sentimentos nobres.
Assim, de que vale passar no vestibular? Li, numa cartilha de curso primário, a seguinte estória: Viviam juntos o pai, a mãe, um filho de 5 anos, e o avô, velhinho, vista curta, mãos trêmulas. Às refeições, por causa de suas mãos fracas e trêmulas, ele começou a deixar cair peças de porcelana em que a comida era servida. A mãe ficou muito aborrecida com isso, porque ela gostava muito do seu jogo de porcelana. Assim, discretamente, disse ao marido: Seu pai não está mais em condições de usar pratos de porcelana. Veja quantos ele já quebrou! Isso precisa parar...
O marido, triste com a condição do seu pai mas, ao mesmo tempo, sem desejar contrariar a mulher, resolveu tomar uma providência que resolveria a situação. Foi a uma feira de artesanato e comprou uma gamela de madeira e talheres de bambu para substituir a porcelana. Na primeira refeição em que o avô comeu na gamela de madeira com garfo e colher da bambu o netinho estranhou. O pai explicou e o menino se calou. A partir desse dia ele começou a manifestar um interesse por artesanato que não tinha antes.
Passava o dia tentando fazer um buraco no meio de uma peça de madeira com um martelo e um formão. O pai, entusiasmado com a revelação da vocação artística do filho, lhe perguntou: O que é que você está fazendo, filhinho? O menino, sem tirar os olhos da madeira, respondeu: Estou fazendo uma gamela para quando você ficar velho... Pois é isso que pode acontecer: se os seus filhos não aprenderem a conviver numa boa com crianças e adolescentes portadores de deficiências eles não saberão conviver com vocês quando vocês ficarem deficientes. Para poupar trabalho ao seu filho ou filha sugiro que visitem uma feira de artesanato. Lá encontrarão maravilhosas peças de madeira...
Fonte: Rede Pitágoras

Meu filho vai ser reprovado. e agora?

Poucas coisas são tão difíceis para a família quanto aceitar e conviver com a possibilidade de uma reprovação escolar. A ideia de "fracasso" tende a desestabilizar os pais. Coragem!

Não é fácil mesmo. Aquele é o seu filho. Educado por você, estudando na escola que você escolheu. Num primeiro momento, há famílias que responsabilizam a instituição. Outras culpam a si próprias. Mas, de qualquer forma, tudo parece residir na eterna culpa. Malfadada culpa. Onde foi que eu errei? O que deu errado? Meu filho é esperto, inteligente!
Bem as coisas não são tão simples assim. O que está em questão não é a inteligência de seu filho. Por trás de uma possível reprovação há vários aspectos a serem considerados. Na grande maioria dos casos, a capacidade intelectual nem é colocada em dúvida. Cada caso é um caso. E é necessário que os pais procurem perceber que, quando as coisas não ocorrem como o esperado, sua postura é fundamental para que o filho aceite, compreenda o que acontece e consiga crescer com a situação.

A idéia de sucesso

Em primeiro lugar, tente enxergar essa idéia de sucesso que hoje se veicula na mídia, nos círculos familiares e profissionais. É uma idéia vendida a qualquer preço. Como se todos fossem obrigados a serem vencedores desde o berço. Como se não houvesse variáveis, ao longo da vida, que nos obrigassem a recuar, a reiniciar processos, a rever caminhos. Essa idéia de sucesso é uma ilusão.
Há pais que chegam a comparar resultados escolares de seus filhos com os de outras crianças. Muitas vezes, imbuídos da imagem e do desejo de um filho bem sucedido, esquecem-se de que há um tempo para tudo acontecer. E de que, por mais que se esforcem, não depende somente deles que a criança caminhe na direção que julgam correta.
Há os mais diferentes fatores para que os "desvios" aconteçam: imaturidade, dificuldades específicas de aprendizagem, momentos especiais pelos quais as famílias passam... Nenhum desses fatores impedirá seu filho, que ora parece necessitar de ajuda e de um tempo maior, de seguir seu caminho de forma vitoriosa. Na grande maioria das vezes, é só do que ele necessita: uma pausa para tomar fôlego e prosseguir.

Auto-estima, tão necessária!

Falar em reprovação é falar de auto-estima. Não há dúvida. E a auto-estima de seu filho começa em você. O primeiro sentimento que surge é o da incapacidade. É comum que o aluno refira-se a si próprio com frases do tipo: "Eu sou burro mesmo..." ou "sou lerdo" ou ainda "todos conseguem tão facilmente... para mim é tudo mais difícil!"
Quando crianças e adolescentes se vêem diante desse quadro precisam sentir que os profissionais da escola e a família acreditam em seu potencial. Para que isso aconteça, avaliar - com ele! - as possíveis causas e ajudá-lo a se perceber é o primeiro passo. Uma outra questão a ser conscientizada é a de que esse abismo entre ele e os demais colegas não tem a dimensão que ele acredita.
Dificuldades são inerentes a qualquer processo de aprendizagem. Alguns amigos considerados brilhantes, muitas vezes nem o são, mas superam suas dificuldades custa de sacrifício e de estudo. Muitos sofrem para manter a imagem de aluno excelente. Para alguns, esse chega a ser um processo de superação.
O que parece ser importante, no entanto, é mostrar que nada nos é dado de graça. Que ser um bom aluno não é um dom natural. Cada qual tem seu caminho peculiar e o desafio de seu filho é encontrar, com você e com os professores, saídas. O que vem a seguir é incentivá-lo nas pequenas, mas importantes conquistas.
Para os pais isso não é fácil. Muitos, com um altíssimo nível de exigência, não enxergam os pequenos sucessos de seus filhos. Por isso, nunca é demais ressaltar: reaprender a olhar a criança e buscar palavras de incentivo fazem com que ela não esmoreça e acredite em si própria. Não há como alterar a situação se não houver a recuperação da auto-estima.

Convivendo com novos amigos

Se o quadro de reprovação for uma realidade, será necessário que você também se preocupe em preparar seu filho para lidar com uma nova turma. Ele será um aluno defrontando-se com crianças mais novas. Ruim? Bem, essa é uma experiência que, se bem aproveitada pelos professores e pela família, pode ser muito proveitosa.
Pense bem. Ele terá a oportunidade de estar revendo conteúdos com mais tranqüilidade e segurança. Isso, sem dúvida alguma, trará benefícios não somente do ponto de vista pedagógico mas, também, fará com que se sinta mais fortalecido. Isso, se bem capitalizado, pode torná-lo uma referência no grupo, uma vez que estará mais amadurecido e com os conceitos mais sedimentados.

A realidade nem sempre é simples

Tudo vai ser fácil? Não, pode ser que, inicialmente, ele seja visto, pelos colegas, como o aluno "repetente", o que não deu conta, mas essa será uma nova história, construída com outro grupo, num outro momento. Se o corpo docente e a família estiverem atentos para lidar, de forma construtiva, com as questões que surgirem, tudo será menos sofrido.
Não tenha dúvida: para os pais essa é uma situação bem mais difícil do que para as crianças e jovens. Eles conseguem superá-la mais rapidamente e com menos traumas. De qualquer forma é importante que pai e mãe procurem, diante da situação inevitável, esquecer de buscar culpados, conversar muito a respeito e procurar linguagem e postura comuns para melhor auxiliar seu filho nesse momento delicado. Sim, porque ele é só um momento.
Talvez fosse importante dizer que quando os filhos enfrentam dificuldades escolares, isso ocorre não porque "sejam dessa ou daquela maneira", mas porque "estão de um determinado jeito, num determinado momento de suas vidas". Cabe família e escola acolhê-los e auxiliá-los a encontrar caminhos. Eles sempre existem.
Norma Leite Brandão
Fonte: www.clicfilhos.com.br

O que é DDA ou TDAH ?

O que é DDA ou TDAH?
O Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA), oficialmente conhecido como Transtorno do déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH),  trata-se de um transtorno caracterizado pela clássica tríade de sintomas que inclui: falta de concentração, impulsividade e hiperatividade ou excesso de energia.
Nos Estados Unidos cerca de 17 milhões de pessoas sofrem deste distúrbio. No Brasil, apesar das estatísticas precárias, calcula-se que 3 milhões de brasileiros tenham esta patologia, no entanto, a maior parte deles não sabe que a tem.
Qual a população atingida?
O DDA ocorre em crianças e adultos, homens e mulheres, rapazes e moças, abrangendo todos os grupos étnicos, camadas sócio-econômicas, níveis de escolaridade e graus de inteligência.
Até pouco tempo atrás, achava-se que este distúrbio era exclusivo da infância e que no decorrer da adolescência tenderia a desaparecer espontaneamente. Hoje, no entanto, sabemos que apenas 1/3 da população com o DDA a supera na adolescência e  2/3 conviverão com o transtorno por toda a vida.
A condição básica para o diagnóstico de DDA no adulto é a história de DDA na infância (antes dos 7 anos).
Por este motivo os relatos do paciente,  como também o de seus parentes e amigos são tão importantes.
Sinais de alerta para o DDA em adulto
dificuldades em organizar as tarefas diárias
tendência a ser desorganizado e a perder objetos
irritação com tarefas repetitivas ou monótonas
preferência por ambientes agitados
numa conversa, começa a falar antes do fim de uma pergunta ou de uma resposta
distração e "sonhos acordados" constantes, principalmente quando está lendo ou ouvindo por obrigação
períodos de sonolência durante o dia
falhas de memória
comportamento impulsivo. Falar e agir sem medir conseqüências
alterações rápidas de humor
em alguns casos, envolvimento com drogas (álcool, cocaína e maconha).
O que causa o DDA?
O DDA deriva de um mau funcionamento neurobiológico (da bioquímica do cérebro). O mecanismo exato permanece desconhecido.
O dado mais informativo é que há uma alteração metabólica principalmente nas regiões pré-frontal e pré-motora do cérebro. Como a região frontal é a principal reguladora do comportamento humano, falhas na bioquímica desta região levariam às alterações encontradas no DDA (impulsos e inquietação).
Devemos destacar ainda que existe forte histórico familiar neste distúrbio (carga genética), uma vez que é comum encontrar várias pessoas acometidas numa mesma família.
Tratamento do DDA
Podemos dividi-lo em 5 etapas:
Diagnóstico: fazer o diagnóstico é o primeiro passo, pois acarreta alívio considerável à medida que o indivíduo se sente amparado: "finalmente tem um nome para toda essa confusão na minha vida";
Educação (Informação): quanto mais a pessoa aprende sobre o DDA, mais eficiente se torna a terapia;
Estruturação: ferramentas práticas como listas, agenda, lembretes, metas, planejamento do dia, etc. , podem reduzir bastante o caos interior de alguém com DDA, aumentando a produtividade e senso de controle da pessoa;
Psicoterapia: consiste num tipo de encorajamento organizado para que as pessoas com DDA prosperem. É como se o terapeuta fosse um "técnico" de um atleta esportivo (coaching);
Medicação: o remédio funciona como um par de óculos para uma pessoa míope. Ajuda a reduzir a sensação de turbilhão interior e a ansiedade. Pode proporcionar um alívio profundo e é bastante seguro quando usado de maneira apropriada.
Onde procurar o tratamento?
Como o diagnóstico do DDA se baseia , antes de tudo, na história do indivíduo, é importante que ele procure  serviços médicos familiarizados com este distúrbio e que exerçam a medicina ao velho estilo (atenção e dedicação) e não ao estilo high tech , pois só assim se fará um diagnóstico  correto e um tratamento adequado.
Critérios diagnósticos sugeridos para o DDA em adultos
Para facilitar a identificação do DDA na população adulta, a Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, especialista em Medicina do Comportamento,  sugere uma lista com cinqüenta critérios, os quais envolvem não somente os sintomas primários do DDA (desatenção, hiperatividade e impulsividade) como também as situações secundárias que habitualmente advêm das dificuldades crônicas enfrentadas nos diversos setores da vida desse indivíduo.
Nota: Para se caracterizar um funcionamento cerebral DDA é necessário considerar a freqüência e a intensidade com que as situações ocorrem e que, pelo menos, trinta e cinco das opções abaixo forem positivas:

1º Grupo: Instabilidade da atenção

1. Desvia facilmente sua atenção do que está fazendo, quando recebe um pequeno estímulo. Um assobio do vizinho é suficiente para interromper uma leitura.
2. Tem dificuldade em prestar atenção à fala dos outros. Numa conversa com outra pessoa tende a captar apenas “pedaços” soltos do assunto.
3. Desorganização cotidiana. Tende a perder objetos (chaves, celular, canetas, papéis), atrasar-se ou faltar a compromissos, esquecer o dia de pagamento das contas (luz, gás, telefone, seguro).
4. Freqüentemente apresenta “brancos” durante uma conversa. A pessoa está explicando um assunto e no meio da fala esquece o que ia dizer.
5.Tendência a interromper a fala do outro. No meio de uma conversa lembra de algo e fala sem esperar o outro completar o seu raciocínio.
6. Costuma cometer erros de fala, leitura ou escrita. Esquece uma palavra no meio de uma frase ou pronuncia errado palavras longas como “cineangiocoronariografia”.
7. Presença de hiperfoco (concentração intensa em um único assunto num determinado período). Um DDA pode ficar horas a fio no computador sem se dar conta do que acontece ao seu redor.
8. Dificuldade de permanecer em atividades obrigatórias de longa duração. Participar como ouvinte de uma palestra em que o tema não seja motivo de grande interesse e não o faça entrar em hiperfoco , p. ex.
9. Interrompe tarefas no meio. Um DDA freqüentemente não lê um artigo de revista até o fim, ou ouve um CD inteiro.

2º Grupo: Hiperatividade física e/ou mental

10. Dificuldade em permanecer sentado por muito tempo. Durante uma palestra ou sessão de cinema costuma mexer-se o tempo todo na tentativa de permanecer em seu lugar.
11. Está sempre mexendo com os pés ou as mãos. São os indivíduos que têm os pés “nervosos”, girando suas cadeiras de trabalho, ou que estão sempre com suas mãos ocupadas, pegando objetos, desenhando em papéis ou ainda ajeitando suas roupas ou seus cabelos.
12. Constante sensação de inquietação ou ansiedade. Um DDA sempre tem a sensação de que tem algo a fazer ou pensar, de que alguma coisa está faltando.
13. Tendência a estar sempre ocupado com alguma problemática em relação a si ou com os outros. São as pessoas que ficam “remoendo” sobre suas falhas cometidas, ou ainda sobre os problemas de amigos ou conhecidos.
14. Costuma fazer várias coisas ao mesmo tempo. É a pessoa que lê e vê TV ou ouve música simultaneamente.
15. Envolve-se em vários projetos ao mesmo tempo. Um exemplo é a pessoa que tem várias idéias simultaneamente e acaba por não levar a cabo nenhuma delas em função desta dispersão.
16. Às vezes se envolve em situações de alto risco em busca de estímulos fortes, como dirigir em alta velocidade.
17. Freqüentemente fala sem parar, monopolizando as conversas em grupo. É a pessoa que fala sem se dar conta de que as outras pessoas estão tentando emitir suas opiniões (além de não se dar conta do impacto que o conteúdo do seu discurso pode estar causando a outras pessoas).

3º Grupo: Impulsividade

18. Baixa tolerância à frustração. Quando quer algo não consegue esperar,  lança-se impulsivamente numa tarefa. Mas como tudo na vida requer tempo, tende a se frustrar e desanimar facilmente.
19. Costuma responder a alguém antes que este complete a pergunta. Não consegue conter o impulso de responder ao primeiro estímulo criado pelo início de uma pergunta.
20. Costuma provocar situações constrangedoras, por falar o que vem à mente sem filtrar o que vai ser dito. Durante uma discussão, um DDA pode deixar escapar ofensas impulsivas.
21. Impaciência marcante no ato de esperar ou aguardar por algo. Filas, telefonemas, atendimento em lojas ou restaurantes podem ser uma tortura.
22. Impulsividade para comprar, sair de empregos, romper relacionamentos, praticar esportes radicais, comer, jogar, etc. É aquela pessoa que rompe um relacionamento várias vezes e volta logo depois, arrependida.
23. Reage irrefletidamente às provocações, críticas ou rejeição. É o tipo de pessoa que explode de raiva ao sentir-se rejeitada.
24. Tendência a não seguir regras ou normas preestabelecidas. Um exemplo seria o trabalhador que teima em não usar equipamentos de segurança, apesar de saber da importância destes.
25. Compulsividade. Na realidade a compulsão ocorre pela repetição constante dos impulsos, os quais, com o tempo, passam a fazer parte da vida dessas pessoas, como as compulsões por compras, jogos, alimentação, etc.
26. Sexualidade instável. Tende a apresentar períodos de grande impulsividade sexual, alternados com fases de baixo desejo.
27. Ações contraditórias. Um DDA é capaz de ter uma explosão de raiva por causa de um pequeno detalhe (por mexerem em sua mesa de trabalho, por exemplo) numa hora e, poucos momentos mais tarde, ser capaz de uma grande demonstração de afeto, através de um belo cartão, flores ou um carinho explícito. Ou ainda ser um homem arrojado e moderno no trabalho e, ao mesmo tempo, tradicional e conservador no âmbito familiar e afetivo.
28. Hipersensibilidade. O DDA costuma melindrar-se facilmente. Uma simples observação desfavorável sobre a cor de seus sapatos é suficiente para deixá-lo internamente arrasado, sentindo-se inadequado.
29. Hiper-reatividade. Esta é uma característica que faz com que o DDA se contagie facilmente com os sentimentos dos outros. Pode ficar profundamente triste ao ver alguém chorar, mesmo sem saber o motivo, ao mesmo tempo que pode ficar muito agitado ou irritado em ambientes barulhentos ou em presença de multidão.
30. Tendência a culpar os outros. Um DDA muitas vezes poderá culpar outra pessoa por seus fracassos e erros, como o aluno que culpa o colega de turma por ter errado em uma questão da prova, já que este colega estava cantarolando baixinho na hora.
31. Mudanças bruscas e repentinas de humor (instabilidade de humor). O DDA costuma mudar de humor rapidamente, várias vezes no mesmo dia, dependendo dos acontecimentos externos ou ainda de seu estado cerebral, uma vez que o cérebro do DDA pode entrar em exaustão, prejudicando a modulação do seu estado de humor.
32. Tendência a ser muito criativo e intuitivo. O impulso criativo do DDA é talvez a maior de suas virtudes. Pode se manifestar nas mais diversas áreas do conhecimento humano.
33. Tendência ao “desespero”. Quando se vê diante de uma dificuldade, seja ela de qualquer ordem, ele tende a vê-la como algo impossível de ser transposto e com isso sente-se tomado por uma grande sensação de incapacidade. Sua primeira reação é o “desespero”. Só mais tarde consegue raciocinar e constatar o verdadeiro “peso” que o problema tem. Isso ocorre porque seu cérebro apresenta dificuldades em acionar uma parte da memória chamada funcional, cujo objetivo é trazer à mente situações vividas no passado e utilizá-las como instrumentos capazes de ajudar a encontrar saídas para as mais diversas problemáticas. Esta memória funcional parece ser bloqueada pela ativação precoce da impul sividade que, neste tipo de p essoa, encontra-se hiperacionada.

4º Grupo: Sintomas secundários

34. Tendência a ter um desempenho profissional abaixo do esperado para sua real capacidade.
35. Baixa auto-estima. Em geral o DDA sofre desde muito cedo uma grande carga de repreensões e críticas negativas. Sem compreender o porquê disso, ele tende, com o passar do tempo, a ver-se de maneira depreciativa e passa a ter como referência pessoas externas e não ele próprio.
36. Dependência química. Pode ocorrer como conseqüência do uso abusivo e impulsivo de drogas durante vários anos.
37. Depressões freqüentes. Ocorrem em geral por uma exaustão cerebral associada às frustrações provenientes de relacionamentos malsucedidos e fracassos profissionais e sociais.
38. Intensa dificuldade em manter relacionamentos afetivos.
39. Demora excessiva para iniciar ou executar algum trabalho. Estes fatos ocorrem pela combinação nada produtiva de desorganização aliada a uma grande insegurança pessoal.
40. Baixa tolerância ao estresse. Toda situação de estresse leva a um desgaste intenso da atividade cerebral. No caso de um cérebro DDA, este desgaste apresentar-se-á de maneira mais marcante.
41. Tendência a apresentar um lado “criança” que aparecerá, por toda a vida, na forma de brincadeiras, humor refinado, caprichos, pensamentos mágicos e intensa capacidade de fantasiar fatos e histórias.
42. Tendência a tropeçar, cair ou derrubar objetos. Isto ocorre em função da dificuldade do DDA de concentrar-se nos atos e de controlar ou coordenar a intensidade de seus movimentos.
43. Tendência a apresentar uma caligrafia de difícil entendimento.
44. Tensão pré-menstrual muito marcada. Ao que tudo indica, em função das alterações hormonais durante este período, que intensificam os sintomas do DDA. A retenção de líquido que ocorre durante os dias que antecedem a menstruação parece ser um dos fatores mais importantes.
45. Dificuldade em orientação espacial. Encontrar o carro no estacionamento do shopping quase sempre é um desafio para um DDA.
46. Avaliação temporal prejudicada. Esperar por um DDA pode ser algo muito desagradável, pois em geral sua noção de tempo nunca corresponde ao tempo real.
47. Tendência à inversão dos horários de dormir. Em geral adormece e desperta tardiamente, por isso alguns deles acabam viciando-se em algum tipo de hipnótico.
48. Hipersensibilidade a ruídos, principalmente se repetitivos.
49. Tendência a exercer mais de uma atividade profissional, simultânea ou não.
E, finalmente, o último critério, que não se enquadra em nenhum dos quatro grupos de sintomas, mas tem sua relevância confirmada pelos estudos que apontam participação genética marcante na gênese do DDA:
50. História familiar positiva para DDA.
Ana Beatriz Barbosa Silva
Fonte: www.medicinadocomportamento.com.br

Como saber se seu aluno entendeu o que leu?

Ao fazer a avaliação da leitura no dia-a-dia, você consegue ensinar a turma a compreender realmente o texto, e não apenas a reproduzir o que está escrito
Na alfabetização, a avaliação é constante: os alunos da professora Ângela, do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, comentam em classe o que leram em casa
Você sabe o quanto ler bem pode facilitar o desempenho escolar e a vida dos estudantes. Mas já se perguntou se cada uma das crianças e adolescentes de sua turma está realmente desenvolvendo a capacidade de ler, compreender e interpretar os textos? Há meios eficientes de verificar se as metodologias de ensino adotadas em sala de aula estão dando certo. "Meus alunos de alfabetização aprenderam a ler, conseguem selecionar textos e, com base neles, produzir seus próprios escritos", afirma a professora Ângela Vidal Gonçalves, do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Os progressos alcançados pela turma dela durante este ano letivo são efeito de um trabalho criterioso e de avaliação constante.
Em qualquer série do Ensino Fundamental, a busca de resultados concretos pode levar à tentação de treinar com os estudantes, separadamente, habilidades como reproduzir informações ou estabelecer relações de causa e conseqüência entre as partes de um texto. Essa não é a estratégia mais adequada para a consultora em Língua Portuguesa Maria José Nóbrega, de São Paulo. "Não há por que treinar uma a uma as habilidades se a leitura é, por natureza, uma prática articulada", afirma. Existem outros caminhos para capacitar e avaliar a turma.

Leitura em três níveis

Antes de ler o texto, diz a consultora, um primeiro passo é verificar o que os estudantes sabem ou têm curiosidade de conhecer sobre o assunto. Depois, examinar com eles o texto no conjunto e dar informações adicionais.
A leitura é mais do que "ler nas linhas" — identificar as informações apresentadas e reproduzi-las. Isso a maioria dos estudantes faz. Para que dêem um passo à frente, as novas informações precisam ser integradas ao que já sabem.
Convém sempre ir chamando a atenção para a idéia principal do texto e seus desdobramentos. Isso encoraja todos a "ler nas entrelinhas", ou seja, deduzir o sentido de expressões desconhecidas e ligar as várias partes do texto.
A compreensão deve ser o foco principal do professor. Se o texto for informativo, você pode levar os alunos a relacionar o novo assunto com os conhecimentos que já têm ou perguntar como a nova informação pode ser aplicada em outros contextos. A elaboração de esquemas e o fichamento ajudam a visualizar as relações entre as informações. No caso de um texto literário, é importante mostrar aos alunos os recursos expressivos empregados pelo autor.
Leitores críticos precisam também ler "por trás das linhas" — avaliar o que foi lido por meio de comentários orais ou escritos. Você deve incentivar o grupo a verificar se as informações são confiáveis, consultar outras fontes, identificar a posição do autor e dar sua opinião sobre as idéias que ele transmite.

Formas de avaliação

Ao longo de todo esse processo, você consegue detectar os sinais dados pela classe e avaliar os resultados da leitura. Maria José recomenda escapar da armadilha das avaliações com questionários que pedem para o leitor "devolver" o que foi lido. "Isso leva a garotada a fazer a cópia do texto", afirma. Melhor é solicitar ao aluno que exponha o tema por escrito com suas próprias palavras.
Você também pode verificar se houve desvio na compreensão do sentido original ao pedir para a criança expor oralmente o que leu. Se a tarefa solicitada turma for a produção do esquema de um texto informativo, é possível verificar, com base na hierarquização das informações, se o leitor compreendeu a estrutura da obra e se empregou corretamente os conceitos. Uma terceira opção é, com base em um esquema montado pelos alunos, pedir que eles desenvolvam um texto e assim verificar se a interpretação está correta.
No momento da avaliação, é importante que você perceba se o estudante:
omitiu uma informação importante;
substituiu um termo por outro, modificando o significado do texto;
fez acréscimos incabíveis;
alterou a ordem das informações prejudicando a compreensão.

Ler bem para escrever bem

No Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, a professora Ângela foi construindo meios de avaliar seus pequenos leitores da classe de alfabetização. Na sala de aula, há um acervo de livros que a turma leva para casa nos fins de semana. Na volta, em uma roda de leitura, todos compartilham as histórias, comentam sobre as ilustrações e avaliam o que cada colega contou. "Assim, verifico se eles compreenderam o que foi lido", diz.
Outra rotina de Ângela é ler histórias de gêneros variados para as crianças e pedir que leiam para os colegas. Antes da apresentação, o aluno leva o livro para casa para treinar a leitura. Em sistema de rodízio, todos também lêem em classe os enunciados de exercícios das diversas disciplinas. Durante as leituras, qualquer dificuldade com o texto pode ser detectada de imediato.
As atividades de redação também são constantes. Foi a turma, por exemplo, que produziu os convites para a inauguração do clube de leitura. Para dar conta da tarefa, todos analisaram convites que trouxeram de casa e discutiram a linguagem e o objetivo de cada um até conseguir redigir o próprio convite. Durante o trabalho, Ângela observava e questionava as crianças para se certificar de que estavam compreendendo o que liam e depois redigiam.
Antes de a turma realizar uma pesquisa, Ângela faz um levantamento sobre o que todos querem saber e onde as informações devem ser procuradas. A garotada assinala as respostas no material pesquisado e depois faz uma síntese escrita do tema. Seja qual for o objetivo da leitura, no final há sempre uma conversa em grupo. "Assim, os resultados das estratégias de ensino podem ser testados na hora." Quando detecta dificuldades nos alunos, Ângela tenta verificar se sua proposta foi adequada ou se é o caso de repensá-la.
Fonte: revistaescola.abril.com.br