terça-feira, 5 de abril de 2011

O QUE É A PSICOPEDAGOGIA?

I . INTRODUÇÃO

" O pior dano que se pode fazer a uma criança é levá-la a perder a confiança em sua própria capacidade de pensar ".
(Emilia Ferreiro)





Algumas definições encontradas entre os estudiosos da psicopedagogia que foram o ponto de partida para a elaboração e reflexão do conteúdo deste trabalho.
Definições
GOLBERT - (...) o objeto de estudo da psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutica. O enfoque preventivo considera o objeto de estudo da psicopedagogia a ser humano em desenvolvimento, enquanto educável. Seu objeto de estudo é a pessoa a ser educada, seus processos de desenvolvimento e as alterações de tais processos. Focaliza as possibilidades do aprender, num sentindo amplo.Não deve se restringir a uma só agência como a escola, mas ir também à família e à comunidade. Poderá esclarecer, de forma mais ou menos sistemática, a professores, pais e administradores sobre as características das diferentes etapas do desenvolvimento, sobre o progresso nos processos de aprendizagem, sobre as condições psicodinâmicas da aprendizagem. O enfoque terapêutica considera o objeto de estudo da psicopedagogia a identificação. análise, elaboração de uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem (1985, p. 13)

KIGUEL - o objeto central de estudo da psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos - bem como a influência do meio (família, escola e sociedade) no seu desenvolvimento.

NEVES - a psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar. levando sempre em conta as realidades internas e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto. E mais procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos. afetivos e sociais que lhe esteio implícitos (1991, p. 12).

RUBINSTEIN - num primeiro momento a psicopedagogia esteve voltada para a busca e o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos portadores de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a remediação e desta forma promover o desaparecimento do sintoma. E ainda, a partir do momento em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do processo de aprendizagem e a relação que a aprendiz estabelece com a mesma. o objeto da psicopedagogia passa a ser mais abrangente: a metodologia é apenas um aspecto no processo terapêutico. e o principal objetivo é a investigação de etiologia da dificuldade de aprendizagem. bem como a compreensão do processamento da aprendizagem considerando todas as variáveis que intervêm neste processo. (1992, p. 103)
SCOZ - estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades. e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento. integrando-os e sintetizando-os.
VISCA - inicialmente foi uma ação subsidiária da Medicina e da Psicologia, perfilou-se como um conhecimento independente e complementa, possuída de um objeto de estudo - o processo de aprendizagem - e de recursos diagnósticos, corretores e preventiivos próprios.
WEIS ¬ busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores.

MAS AFINAL O QUE É E POR QUÊ SURGIU A
PSICOPEDAGOGIA?
Há anos o sistema educacional permanece o mesmo, mas há mais ou menos 20 anos apareceu um novo campo de estudo chamado psicopedagogia. Por quê? Fazendo uma análise da vida familiar vemos que sua estrutura se modificou bastante e talvez de uma forma um pouco abrupta. Sabemos que a toda ação corresponde uma reação e qual é o ponto mais fraco em uma família? Claro as crianças. Somando-se esta mudança às mudanças tecnológicas que vem ocorrendo, observamos um aumento de adrenalina muito grande na medida em que parecemos estar sempre desatualizados no mundo de hoje. A cada dia novas invenções e soluções aparecem para tomar obsoletas aquelas que acabamos de aprender. Sem dúvida, apesar destas mudanças não terem ocorrido dentro do sistema. educacional, pelo menos aqui no Brasil as mudanças neste sistema vem acontecendo aos poucos e talvez de uns cinco anos para cá, elas afetam diretamente os nossos alunos, pois como veremos acontecer um aumento no fracasso escolar. conseguiam solucionar a contento estes. As ciências existentes não conseguiam solucionar a contento estes.
E a partir de então que nasce a psicopedagogia, sem estar ainda totalmente estruturada ou definida. Nasce da necessidade de solucionar problemas que não recebiam respostas positivas nos métodos tradicionais utilizados. A lacuna que estava aberta é então preenchida e o processo da aprendizagem escolar passa a ser alvo de um novo campo de estudo, a psicopedagogia.
Este trabalho vem tentar clarificar de uma forma bastante objetiva o que é a psicopedagogia e seu objeto de estudo, uma vez que as definições apresentadas acima não nos satisfizeram plenamente.

II. HISTÓRIA
No Brasil, a prática da psicopedagogia surgiu da necessidade de contribuir na questão do fracasso escolar apresentando um caráter reeducativo, assumindo ao longo do tempo um enfoque terapêutico.
Até os anos 80, a psicopedagogia tratava os sintomas apresentados pelos alunos com problemas de aprendizagem, cabia a ela remediar as dificuldade no intuito de levar o sujeito ao domínio dos conteúdos e habilidades escolares. Nesta época ainda não possuía um corpo teórico próprio.
Entre os anos 80 e 90, seu objeto de estudo passa ser o processo de aprendizagem e a preocupação em refazê-Io, uma vez que baseando-se nos trabalhos de Piaget foi possível uma melhor compreensão da estrutura e funcionamento do sujeito e a sua relação com o meio. Dando ênfase aos aspectos cognitivo, afetivo e social. Já nestes anos apresenta conceitos próprios.
Na década atual a psicopedagogia passa ser vista como uma ciência independente da psicologia e da pedagogia. Ela não é apenas a união ou interseção destas duas. Agora ela possui o seu objeto de estudo definido e com um objetivo maior. A psicopedagogia, atualmente, não se focaliza mais nos sintomas ou processo de aprendizagem para o seu
estudo, o protagonista passa a ser o ser que aprende aquele que interage com o mundo, que também apresenta o seu lado afetivo e cognitivo. Nasce, então, o SER COGNOSCENTE, aquele que será estudado e trabalhado pela psicopedagogia para que possa construir o seu conhecimento adquirindo uma autonomia e conseqüentemente uma ousadia, visando o seu crescimento. Não podemos esquecer jamais que ao mesmo tempo que o ser cognoscente possui uma integridade é também um ser múltiplo. A relação psicopedagógica se dá, portanto, entre o psicopedagogo e o ser cognoscente; ou seja, o sujeito que aprende inserido num meio ensinante.

III. A PSICOPEDAGOGIA
Dar uma definição a palavra psicopedagogia foi um trabalho árduo, pois quanto mais líamos mais complexa se tomava a sua definição. Isto porque ainda é um campo em processo de cOnstrução. Se pegarmos a definição que está no Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa o termo psicopedagogia é definido como "aplicação da psicologia experimental à pedagogia"(1992 p. VII). Na verdade a psicopedagogia é muito mais que isso pois possui um caráter interdisciplinar. Entenda-se por interdisciplinar a definição que Barker deu em o Rumo da Língua: "0 interdisciplinar, de que tanto se fala não está em confrontar disciplinas já constituídas das quais, na realidade nenhuma consente em abandonar-se. Para se fazer interdisciplinariedade, não basta tomar um "assunto " (um tema) e convocar em torno duas ou três ciências. A interdisciplinariedade consiste em criar um novo objeto novo que não pertença a ninguém (1988, p. 99).
Tendo por base esta definição podemos entender a psicopedagogia como a constituição de uma nova área que recorre aos conhecimentos da psicologia, da pedagogia, psicanálise, lingüística, fonoaudiologia em medicina, traçando o seu próprio objeto de estudo a partir de um corpo teórico próprio.
A psicopedagogia trabalha com a aprendizagem e por isso baseia-se na visão de Piaget que não considera a inteligência como algo inato, nem adquirido, mas sim o resultado de uma construção de vida à interação das pré condições do sujeito e às circunstâncias do meio social. Junta-se isto o lado afetivo tão bem desenvolvido por Freud ao estudar o inconsciente, ajudando-nos a elucidar como o ser funciona como um todo e não apenas como um gravador que registra o que acontece. O ser interage com o meio e utilizando seu lado afetivo e cognitivo constrói então o seu próprio conhecimento.
Nos perguntamos então o que é que a psicopedagogia traz de novo, uma vez que ela se utiliza de conhecimentos já existentes e porque o seu resultado é tão positivo. A resposta já está na própria pergunta. Justamente por se utilizar de vários conceitos já conhecidos e fazer com que eles interajam. A psicopedagogia conseguiu analisar o seu objeto de estudo com mais clareza e mais fidelidade uma vez que se preocupa em analisar toda as faces que o ser cognoscente apresenta.
Outro lado positivo é conseguir conciliar tão bem duas ciências aparentemente, opostas pelo abstrato e pelo concreto. como a psicanálise e a psicologia genética. Ao considerar todo o estudo de Piaget preocupado com a construção do conhecimento, como este se dá através dos limites que as fases apresentadas por Período Sensório-Motor, Pré Operacional, Operacional Concreto e Operacional Formal nos instrumentalizamos para analisar a dimensão racional deste ser. Junta-se a isto a teoria de Freud do inconsciente que nos elucida tão bem os mecanismos de defesa do Ego que podem se refletir em bloqueio de aprendizagem do ser cognoscente, e os nossos impulsos, desejos e paixão, teremos a dimensão desiderativa dando-nos, então uma visão mais complexa deste ser.
E um campo de estudo que dá certo pois prioriza a muItiplicidade deste ser que aprende. Nesta multiplicidade não podemos esquecer o vínculo que se encontrará na dimensão relacional, uma vez que sem ele é dificil estabelecer um campo onde possa haver a aprendizagem. E é neste vínculo também que se encontra o sucesso da psicopedagogia, pois é através do vínculo estabelecido entre o psicopedagogo e o ser cognoscente que haverá então a abertura para que o processo comece e que passamos levar o nosso "paciente" para o caminho que ele procura, ou seja, a sua autonomia, a sua confiança e segurança para poder aprender e crescer, pois este ser estará sempre se confrontando com o processo dialético no qual vivemos equilíbrio e desequilíbrio, erro e acerto, prazer e negação construção e "desconstrução" e por isso mesmo é importante também que despertemos nele a semente do filósofo que existe em cada de nós para que o olhar do ser sobre o mundo se torne mais frutífero.

IV. O SER COGNOSCENTE
Se faz necessário conhecer um pouco melhor este objeto de estudo da psicopedagogia que é o ser cognoscente.
Quem é o ser o ser cognoscente? É aquele que aprende. Mas aquele que aprende não é apenas- o aluno que sai de casa como o seu material e uniforme com dever de casa pronto e vai para a escola para adquirir novos conhecimentos. O ser que aprende é o todo e não apenas o cognitivo e é aí que a psicopedagogia conseguiu desatar o nó que havia no momento em que o processo de aprendizagem não se dava da forma desejada ou esperada.
Este ser é formado por 3 dimensões das quais já falamos e reforçaremos aqui para clarificá-las. Usaremos um esquema já bastante conhecido pelos psicopedagogos para representar este ser.

DIMENSÃO RELACIONAL
O ser cognoscente aprende na interação com o meio e com os outros construindo sua identidade para alcançar o conhecimento e a autonomia.
Sendo um ser contextualizado e determinado por suas condições biológicas ele interage de maneira particular, estabelecendo vínculos. Essas relações vinculares positivas ou negativas são marcadas por relações anteriores e representativas e por isso mesmo podem ser resgatadas.

DIMENSÃO COGNITIVA
A área cognitiva se refere a construção do conhecimento. Aqui nos basearemos nos estudos de Piaget. o ser constrói o seu conhecimento através de etapas que se tomam mais complexas e cada etapa posterior conterá dentro dela as anteriores. Para isso é preciso haver a interação do sujeito com o objeto pois é ai que se dá o conhecimento. Através da assimilação e posterior acomodação onde haverá então a transformação do ser, pois para Piaget a inteligência se dá na capacidade de adaptação.

DIMENSÃO AFETIVA
Todo evento psíquico é determinado por aqueles que o precederam, os acontecimentos na vida mental do sujeito podem ser furtuitivos ou não relacionadas com os que procederam, sugerindo serem apenas na aparência. Cada um destes eventos tem um significado e um significante.
O sujeito não tem autonomia de suas próprias pensamentos, o inconsciente e a própria essência da sua vida mental, sendo instituindo por moções do desejo, regido pelos princípios da realidade e do prazer.
A dimensão afetiva se articula às demais dimensões numa totalidade dinâmica gerando uma ação que organiza e modifica o meio, que termina na construção do conhecimento e do próprio sujeito cognoscente.
O nosso objeto de estudo é este ser que possui estas 3 dimensões e que por isto está sujeito a mudanças de comportamento que não eram entendidas quando apenas se concentrava-se na dimensão cognitiva ou afetiva, poucas vezes a relacional então era considerada.
É preciso estar atendo ao processo dinâmico que há na construção do conhecimento deste ser uma vez que ele influência o meio e por ele é influenciado. É muito importante lembrar que é no desequilíbrio que se faz possível a construção do conhecimento e por isso é importante estar sempre desafiando este ser para que ele possa dar um passo a frente e se sentir motivado para satisfazer a ansiedade que a falta de conhecimento nos traz, tornando¬o confiante e seguro.
Uma vez que se considera as 3 dimensões do ser é bom lembrar que a atividade criadora é uma característica importante para ele, pois ele construirá este conhecimento de uma forma onde estarão organizados os seguintes passos: perceber, discriminar, organizar, conceber, conceituar e enunciar. Temos que lembrar que este processo acontece de uma forma integrada. O que importa é que a ação sempre segue este processo o que muda é a qualidade uma vez que esta está diretamente ligada às fases de Piaget. Portanto, a qualidade do resultado deste processo será definida pela fase em que o ser cognoscente se encontra.

V. A ATUAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA
A existência da psicopedagogia parte da demanda dos problemas de aprendizagem. Por isso, a necessidade de estudar os "processo de aprendizagem". A partir deste estudo, podemos perceber a psicopedagogia como em muitas outras áreas, atuação preventiva e clínica.
Na função preventiva se objeto de estudo é o ser humano em desenvolvimento enquanto educável. Isso é, ela atua de forma ampla tanto na escola, como na família quanto na comunidade. A psicopedagogia esclarece sobre as etapas da evolução ligada aos processo de aprendizagem e as condições determinantes destas dificuldades.
No trabalha terapêutico a função da psicopedagogia é dirigida ao sujeito que aprende, como ele aprende e porquê ele aprende, além de perceber a dimensão da relação entre o psicopedagogo e sujeito de forma a favorecer a aprendizagem.
Como profissional, o psicopedagogo pode atuar em uma perspectiva preventiva ou em uma abordagem terapêutica, clínica seu trabalho pode estar ligado a uma instituição ou ser estritamente individual (em seu próprio consultório).
É bastante expressivo o número de alunos que apresenta dificuldade de ler, de ortografar, de escrever e mesmo de pensar, exigindo uma abordagem terapêutica. Dando a esse fato, fica implícito a necessidade de ação preventiva do psicopedagogo. Ocupando-se da integração do aluno na vida escolar, o psicopedagogo, é capaz de colaborar para que o aprendente estabeleça com o ato de aprender uma relação prazerosa e desafiadora.
O psicopedagogo deverá ser um profissional sensível, com domínio teórico buscando uma permanente atualização e equilíbrio emocional. Ter percepção crítica, inclusive para reconhecer os limites de sua atuação. Saber executar, acolher e ver o sujeito com um olhar para além de, valorizando a autonomia já construída resgatando o desejo de aprender e os vínculos positivos.

VI. CONCLUSÃO
Concluir um trabalho sobre o que é a psicopedagogia nos parece tarefa não muito fácil, uma vez que pensamos ser possível que esta definição que estabelecemos em nosso trabalho ainda não será a definitiva.
Já que o processo de aprendizagem se dá no desequilíbrio, talvez seja frutifico para a psicopedagogia que esta não se equilibre jamais, uma vez que a vida nos apresenta sempre situações nova, e que ela própria já mudou seu objeto de estudo por 3 vezes.
O que importa, no entanto, é que fique claro, para nós futuros psicopedagogos, que o vínculo estabelecido com o nosso cliente que é constituído por 3 dimensões e possui um ECRO (redundante falando que é só dele) e que irá interagir com o nosso ECRO, seja o caminho para toma este EU COGNOSCENTE autônomo e criativo para agir e mudar o. seu meio, sendo também mudado por ele, mas estando seguro de que este processo só o fortificará.
É por último, mas não menos importante, que possamos determinar o lugar exato da psicopedagogia no mundo atual e não deixar que ela seja considerada a panacéia para os problemas de aprendizagem, uma vez que sabemos que é preciso ter a humildade de reconhecer que nem tudo dependerá de nós.
"O termo psicopedagogia apresenta-se hoje, como uma característica especial. Quanto mais tentamos, elucidá-lo, menos claro ele nos aparece. (Bossa - 1994)

VII. BIBLIOGRAFIA

1. ALMEIDA E SILVA M. C. - Em busca de uma Fundação para a Psicopedagogia,
Rio de Janeiro PUC-RIO, Tese de Mestrado, 1992.
2. BOSSA NADIA A. - A Psicopedagogia no Brasil: Constituições a partir da Prática,
porto Alegre, 1994.
3. KIGUEL, S.M. - Abordagem Psicopedagogia da Aprendizagem
4. LAJONQUIERE, L - De Piaget a Freud para repensar as aprendizagens, 1992.
5. MAMEDE NEVES, M.A. - Psicopedagogia: Um só termos e muitas significações ¬
Revista da ABBPp, São Paulo [21] V. 10, 10 Semestre, 1991 (1987)
6. PICHON-RIVIERE E. - Teoria do vínculo, 1991
7. SCOZ, B - Psicopedagogia e Realidade Escolar, 1994.
8. VISCA, A - Psicopedagogia: Novas Contribuições, 1991






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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Os meus livros

Os meus livros

Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.
Jorge Luis Borges

o que é psicopedagogia?

O QUE É PSICOPEDAGOGIA?
João Beauclair

Vivenciar Psicopedagogia é um estado de ser e estar sempre em formação, projetação e em processo de criação.
O que é psicopedagogia? De leigos a estudantes de psicopedagogia, muitos ainda questionam sobre a função do psicopedagogo nos diversos âmbitos: educação, saúde, ação social, clínica e institucional.
Para entender o que é Psicopedagogia, acredito ser importante ir além da simples junção dos conhecimentos oriundos da Psicologia e da Pedagogia, que ocorre com bastante freqüência no senso comum, isto porque, em sua própria denominação Psicopedagogia aparece “suas partes constitutivas – psicologia + pedagogia – e que oferece uma definição reducionista a seu respeito”, como nos ensina Julia Eugenia Gonçalves .
         Na realidade, a Psicopedagogia é um campo do conhecimento que se propõe a integrar, de modo coerente, conhecimentos e princípios de diferentes Ciências Humanas  com a meta de adquirir uma ampla compreensão sobre os variados processos inerentes ao aprender humano. Enquanto área de conhecimento multidisciplinar,  interessa a Psicopedagogia compreender como ocorre os processos de aprendizagem e entender as possíveis dificuldades situadas neste movimento. Para tal, faz uso da integração e síntese de vários campos do conhecimento, tais com a Psicologia, a Psicanálise, a  Filosofia, a  Psicologia Transpessoal, a Pedagogia, a Neurologia, entre outros.

Por que a Psicopedagogia não tem seu papel claro na formação do/a Psicopedagogo/a?
Vivenciar  Psicopedagogia é um estado de ser  e estar sempre em formação, projetação e em processo de criação. Criação de sentidos para nossa própria trajetória enquanto aprendentes e ensinantes, enquanto seres viventes na complexa gama de relações que estabelecemos com o nosso tempo e espaço humano. Todas as nossas ações e produções, por serem humanas, estão sempre em processo de permanente abertura, colocadas num prisma próprio para novas interpretações e busca de significados e  sentidos, situadas num movimento incessante de desconstrução e de re-construção. Dizendo isso de uma outra forma, posso afirmar que, no nosso tempo de reconfiguração de paradigmas, os conceitos estão constantemente sendo revistos e ganhando novos significados; com a Psicopedagogia não podia ser diferente, visto que o pensar reflexivo sobre esta área do conhecimento se constitui uma das importantes tarefas a ser desempenhada por quem lhe tem como campo de ação, profissionalidade, dedicação e estudo. Mas será que realmente  a Psicopedagogia não tem seu papel claro na formação do/a Psicopedagogo/a? Ou isto é um mito que precisa ser reconsiderado?

Qual o papel do psicopedagogo nas áreas possíveis de atuação?
Sabendo que, na verdade, a Psicopedagogia é  um campo de atuação que, ao atuar de forma preventiva e terapêutica, posiciona-se para o compreender os processos do desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias áreas e estratégias pedagógicas objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir nos processos de transmissão e apropriação dos conhecimentos (possíveis dificuldades e transtornos) , o papel essencial do psicopedagogo é o de ser mediador em todo esse movimento. Se for além da simples junção dos  conhecimentos da Psicologia e da Pedagogia, o psicopedagogo pode atuar em diferentes campos de ação, situando-se tanto na Saúde como na Educação, já que seu fazer visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana, que, afinal, ocorrem em todos os espaços e tempos sociais.

O modelo argentino da psicopedagogia no trabalho multidisciplinar em hospitais e escolas é institucionalizado. No Brasil apesar de se falar muito no trabalho multidisciplinar, pouco se vê desta atuação. Você acredita que somente com a regulamentação da profissão isto se  tornará uma realidade?
Talvez o trabalho multidisciplinar institucionalizado ainda não seja prática  comum nem mesmo em outros países, com raras exceções, evidentemente. O paradigma cartesiano-positivista ainda é o grande entrave a ser superado para que se possa pensar em um outro modo de fazer ciência e cuidar das pessoas. É necessário um processo longo, a ser vivenciado ainda por um bom tempo como desafio a ser superado. O modelo argentino de Psicopedagogia, com o trabalho multidisciplinar em hospitais e escolas também teve sua trajetória de luta, como em muitos momentos nos apontaram Jorge Visca e  Alícia Fernandéz. Realmente em nosso país, esta atuação ainda é restrita de fato. E um ponto essencial para tal é a regulamentação da profissão: esta questão é primordial para o avançar da profissionalidade do psicopedagogo. A meu ver, é um processo muito rico a ser vivido por todos nós psicopedagogos.

Ao falarmos de transdisciplinaridade na Psicopedagogia, pressupomos que a prática e o olhar psicopedagógico objetivem: aceitar um novo paradigma; ter preparação teórica adequada; possuir conhecimento prático suficiente; estar capacitado pedagogicamente e psicopedagogicamente; ser aberto e criativo; conhecer as novas tecnologias; atualizar-se permanentemente; entender e aceitar a diversidade discente. Em sua experiência acadêmica, isto é ensinado nos cursos de psicopedagogia?
Se não é ensinado, pelo menos vivenciado enquanto perspectiva, caminho a ser trilhado não resta a menor dúvida. Compreendo que o psicopedagogo é um pesquisador permanente, um sujeito que, a cada movimento, ação e conduta enquanto profissional, busca alternativas para os dilemas, tensões, limites que lhe surgem, vislumbrando sempre novas possibilidades.  E tudo é processo, movimento. Precisamos acreditar, cada vez mais, no ensinamento de nossa mestra Ivani Fazenda, que nos diz da importância da espera, da humildade, do conduzir-se com harmonia e perseverança em tudo o que se refere a mudanças de paradigmas. O cuidado maior, a meu ver, deve ser efetivamente, com a proliferação dos cursos de Psicopedagogia pelo Brasil sem as devidas orientações. A ABPp esforça-se, de modo contundente, em mostrar o quanto é necessário ter preparação teórica adequada e possuir conhecimento prático suficiente, além de sugerir caminhos para a organização curricular de cursos de especialização em Psicopedagogia. Na minha vivência, enquanto docente da área em diferentes cursos de formação em Psicopedagogia no país, observo o esforço imenso em fazer o melhor, pois afinal estar capacitado pedagogicamente e psicopedagogicamente, ser aberto e criativo, conhecer as novas tecnologias, atualizar-se permanentemente; entender e aceitar a diversidade discente são desafios imensos, para uma vida inteira. O essencial,  acredito, é o desejar fazer o melhor possível e neste desejar, realizar.

Em julho próximo, no Fórum da ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia, você estará lançando o primeiro livro da Coleção “Olhar Psicopedagógico”, da Editora WAK, do Rio de Janeiro, com o tema “Psicopedagogia: trabalhando competências, criando Habilidades”. Por quê a escolha deste tema?
A Coleção Olhar Psicopedagógico é uma aposta na continuidade da produção acadêmica e no surgimento e divulgação de novos autores em Psicopedagogia no Brasil. Em São Paulo, no  ano passado, ao participar como conferencista convidado e docente de um curso  sobre a construção do olhar do Psicopedagogo no II Congresso Latino Americano de Psicopedagogia promovido pela ABPP, numa conversa informal, Alícia Fernandez me falou sobre como o Brasil, por sua diversidade e criatividade, pode e tem contribuído para a avançar do campo psicopedagógico. A escolha do tema talvez esteja vinculada a isso: nos meus processos de autoria de pensamento, também posso contribuir para o debate, posso elaborar outras possibilidades, evidenciar outros aspectos à reflexão. Ter competências e habilidades em nossos fazeres cotidianos, tanto nos espaços clínicos e/ou institucionais é questão primordial para nossa própria vivência e sobrevivência enquanto formadores e profissionais em Psicopedagogia.

Qual a importância em se debater este tema e quais são as competências e habilidades do psicopedagogo?
A importância em se debater este tema reside, a meu ver, na busca mesma do reconhecimento e da importância da atuação do psicopedagogo em nosso tempo presente.  O que está construído neste meu livro é um referencial, uma matriz de competências, vinculadas a habilidades básicas para o seu desenvolvimento. Aqui não me cabe, por questões de espaço e  lugar, ampliar e desenvolver todas elas, mas a primeira destas competências está voltada para a necessidade do psicopedagogo estabelecer elos de conexão com as principais articulações e correntes teóricas contemporâneas, propondo-se a busca permanente da teoria na construção de suas práticas profissionais, principalmente no que concerne aos pressupostos da transdisciplinaridade e da complexidade. E a última está vinculada ao vivenciar, efetivamente, em sua vida pessoal cotidiana a máxima de ser um eterno aprendiz, exercendo nesta vivência senso crítico, humildade, serenidade, escuta, espera, olhar atento, intuição e novas formas de compreensão da complexidade inerente aos diferentes aspectos da  realidade. Para cada competência – elas são sete, há uma proposta de três habilidades básicas, ou seja, no livro há uma matriz de competências com as habilidades básicas para cada uma delas. O continuar deste meu trabalho agora está na elaboração de estratégias facilitadoras deste movimento. Meu desejo é contribuir para o debate e abrir outras possibilidades de interlocução.  

Estamos sabendo que outros livros virão, poderia nos adiantar quais serão os temas?
Como coordenador da coleção, discuto com o Pedro, nosso editor da WAK, sobre os temas que acreditamos ser de fundamental importância atualmente no campo da Psicopedagogia no Brasil. O próximo volume, que dependendo de todo um processo que estamos vivendo agora, poderá também ser lançado no Fórum da ABPp em julho e contém artigos de diferentes autores que atuam em distintos estados brasileiros. É um volume intitulado Psicopedagogia: espaço de ação, construção de saberes, onde teremos artigos de Ieda Boechat, José Artur Bastos, Julia Eugenia Gonçalves, Dulce Consuelo, Elizabeth Borges, Adriana Schimidt e um texto de minha autoria com temas vinculados ao aprofundamento psicopedagógico. O terceiro volume, sobre Psicopedagogia Institucional e ainda sem título definido também já está sendo organizado, com artigos de Maria Irene Maluf, Simaia Sampaio, Geni Lima, Maria Taís de Melo, Márcia Siqueira de Andrade,  Julia Eugenia Gonçalves e um outro artigo meu onde relato sobre uma experiência de formação em Psicopedagogia Institucional vivenciada recentemente. O quarto volume, ainda sem autores efetivamente confirmados, ainda está em elaboração e em processo de seleção de artigos e tratará sobre o tema “dificuldades” em aprendizagem e as possibilidades de intervenção do psicopedagogo. É um trabalho muito gratificante e nossa contribuição pretende ser a melhor possível, afinal, é uma maneira de estarmos auxiliando no reconhecimento de nossa própria área de formação e atuação, que tanto nos estimula a irmos adiante em nossa trajetória enquanto aprendente e ensinantes.

Você participa de grupos de discussão através da Internet? Como tem sido sua experiência?
Este pergunta é muito interessante. Sempre brinco em minhas palestras, cursos, conferências e oficinas que eu divido a minha trajetória enquanto aprendenteensinante  em dois momentos distintos: em a.C. e d.C. , ou seja, antes e depois do computador em minha vida, pois tal tecnologia me permitiu e ainda me permite ampliar perspectivas de aprendizagem e o que considero fascinante: as possibilidades de aproximação que temos com os que atuam e se interessam pelos temas que estudamos e dedicamos nossas pesquisas e leituras. Meu encontro com a Psicopedagogia se deu desta forma, através de um desses encontros: Julia Eugenia Gonçalves, atualmente presidente da Fundação Aprender, em Varginha, Minas Gerais, é moderadora de um grupo de discussão que eu participo faz anos e nossos intercâmbios sempre foram excelentes. Recentemente fui convidado pela Dr. Márcia Siqueira de Andrade, do Instituto de Psicopedagogia da UNISA, a participar de um outro grupo, o ILAPp, e novos intercâmbios estão sendo feitos, novas aproximações e contatos estão surgindo, inclusive com a possibilidade de termos, desta forma, novas idéias para outros volumes da Coleção Olhar Psicopedagógico e outros projetos em comum: é o que eu chamo sempre de aprendizagem colaborativa.  Também modero duas listas de discussão no yahoogrupos, onde troco e-mails com alunos, colegas de trabalho, divulgo eventos em educação, temas interessantes em Psicopedagogia, bibliografias, lançamentos de livros, indicação de sites, fóruns, congressos, enfim, estimulo outras pessoas a participarem desta rede fundamental ao nosso ser e estar no mundo, ampliando sempre nossos movimentos e exercendo nossas competências  e sensibilidades solidárias, como nos ensina Hugo Assmann e Jung Mo Sung. Isto sem falar no meu próprio site, www.profjoaoabeauclair.kit.net , onde divulgo minhas ações de consultoria e oficinas de formação em educação e psicopedagogia.

Faz-se Psicopedagogia nesta mídia interativa?
A Internet é efetivamente uma mídia interativa fabulosa e essencial ao nosso tempo presente. Talvez não possa afirmar definitivamente que se faz Psicopedagogia com esta mídia interativa de forma direta, mas que com certeza é  ferramenta de importância ímpar para  o seu desenvolvimento, isso é inegável. Mas, infelizmente, ainda há, por incrível que pareça resistência em relação ao seu uso com este objetivo. Mas, não tenhamos pressa, afinal, como nos ensina o poeta espanhol Antonio Machado, “caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar.”  Adelante!


Leia sinopse do livro "PSICOPEDAGOGIA - TRABALHANDO COMPETÊNCIAS, CRIANDO HABILIDADES" Autor:JOÃO BEAUCLAIR; Editora: WAK EDITORA entrando no endereço: http://www.psicopedagogia.com.br/lancamento/lancamento.shtml
Publicado em 29/06/2004 16:57:00

João Beauclair - Doutorando em Intervenção Psicossocioeducativa pela Universidade de Vigo,Campus de Ourense, Galícia Espanha. Palestrante e Conferencista Internacional. Autor de vários livros sobre Educação e Psicopedagogia; Professor convidado por diversas instituições ministrar cursos de Pós-graduação em Educação e Psicopedagogia em diferentes regiões do Brasil; Escritor, Arte-educador,  Psicopedagogo, Mestre em Educação.
homepage: http://www.profjoaobeauclair.net/

A Psicopedagogia e a psicanálise

A PSICOPEDAGOGIA E A PSICANÁLISE
Ana Lisete Frontini Pereira Rodrigues

Acredito que para trabalhar a aprendizagem, é necessário conhecer a teoria psicanalítica, uma vez que ela auxilia o entendimento do ser e de seus relacionamentos, e portanto de seu mundo, o que se mostra fundamental para o trabalho do profissional
Por que a escolha da psicanálise para embasar seu trabalho psicopedagógico?
Após ter militado nas diferentes áreas do conhecimento por meio de grupos de estudo e supervisões e não ter encontrado respostas para todas as minhas indagações, busquei a Psicanálise para embasar meu trabalho, por ser um referencial teórico fundamental sobre a mente humana. A Psicanálise foi buscada por mim por meio do estudo de Freud e isso me levou a conhecer os trabalhos desenvolvidos por Melaine Klein e Bion.
Acredito que o estudo da Psicanálise é uma forma de lidar com a personalidade inigualável, pois possibilita conhecer o ser humano, o modo como este se conhece, seu objeto de desejo, seus impulsos e seus valores. Enfim, permite conhecer a estrutura do mundo mental e sua organização. Acredito que para trabalhar a aprendizagem, é necessário conhecer a teoria psicanalítica, uma vez que ela auxilia o entendimento do ser e de seus relacionamentos, e portanto de seu mundo, o que se mostra fundamental para o trabalho do profissional.

Quais são os pontos de contribuições da psicanálise para a psicopedagogia?
As principais contribuições da Psicanálise a Psicopedagogia abrangem fundamentalmente o funcionamento e a dinâmica da estrutura da personalidade, o modo como cada indivíduo lida com seus impulsos e desejos (função do id), a maneira que cada aprendiz lida com a percepção de si (função egóica), o modo como a criança, o adolescente ou o adulto lidam com seus objetos internos, o modo como cada pessoa valoriza ou não seus objetos internos (função superegóica) e a maneira como valoriza e aproveita seus valores adquiridos de seus pais, professores, amigos, etc.
A Psicanálise auxilia o psicopedagogo a dar um significado maior ao vínculo e à relação com o indivíduo que ele atua. Existem pessoas que necessitam serem trabalhadas com uma metodologia psicanalítica mais clássica para lidar com suas dificuldades, e portanto podem ser beneficiadas pelo uso da associação livre. Há outras metodologias de trabalho aplicadas em crianças e adolescentes que resolvem suas dificuldades por meio de jogos e atividades artísticas que também contribuem para o progresso do indivíduo.
O psicopedagogo precisa estar atento para perceber que tipo de metodologia deverá utilizar em cada cliente/paciente. Para isso é importante analisar o vínculo que estabelecemos com cada paciente, suas necessidades e a maneira de trabalhar que combina melhor com suas características individuais e/ou sociais.
No caso da Psicopedagogia, o que determina qual a linha de trabalho, além das mencionadas acima, são os valores familiares, os valores da escola que o indivíduo estuda, e sua cultura.

O psicopedagogo não corre o risco de estar fazendo uma terapia emocional e deixar de lado a sua função que é lidar com a aprendizagem?
Se o psicopedagogo for um investigador das necessidades da criança ou do adolescente que for procurá-lo ao consultório, ele saberá distinguir essas diferentes funções sem prejuízo dos seus objetivos. Ao lidar com a aprendizagem, o efeito terapêutico acaba ocorrendo naturalmente quando há cuidados com a linha teórica escolhida. No entanto, ele é secundário. É importante entender como o indivíduo se conhece como pessoa, como ele se vê e qual seu envolvimento com o mundo ao seu redor, mas isso não representa deixar de lado a função de lidar com a aprendizagem. Apenas ajuda a alcançar êxito nessa tarefa de um modo mais simples, mais claro e portanto mais eficiente. Acredito que isso possa ocorrer quando se tem em mente que as pessoas são um todo, isto é, possuem seu mundo mental e suas organizações social e cultural.
Precisamos sempre ter claro que o uso de diferentes metodologias deve ser feito não por submissão ao método, mas porque acreditamos nele. É por isso que o psicopedagogo tem que saber com quem está lidando, quem é seu paciente, como ele vê os seus desejos, os valores adquiridos, e conseqüentemente a aprendizagem, para poder assim, escolher o método que considera mais adequado para cada paciente.
Profissionais da psicopedagogia que vem de outras áreas como: pedagogos, fonoaudiólogos não tiveram a psicanálise como fonte teórica. Qual a necessidade do psicopedagogo optar por uma teoria?
A diferente origem dos atuais profissionais da Psicopedagogia é algo que me preocupa muito. O psicopedagogo advindo da área de saúde ou da educação, que são áreas afins, deverá buscar uma linha teórica que se identifique mais com ele como indivíduo. Além disso, ao se aprofundar em alguma linha específica, o profissional poderá utilizá-la cada vez melhor. É isso que diferencia um bom profissional de outro e cria sua identidade de psicopedagogo diferenciada e única. Acredito que o processo deverá ser criativo, mas um referencial teórico é fundamental para o embasamento do profissional, que não deve cair no erro de ser eclético, isto é, saber um pouco de tudo e não se aprofundar em nada.
O conhecimento cuidadoso e constante transformará o psicopedagogo num profissional cada vez mais qualificado.
Qual foi o caminho que você percorreu na sua formação pessoal em psicopedagogia?
Durante meu curso de psicopedagogia, percebi que o mundo mental não era tão simples quanto eu estava olhando. Vi assim a necessidade de aprofundar-me, e desta forma fiz supervisões durante todo o período que fiz o curso, tanto as dadas durante o curso, como também nas áreas psicomotora, cognitiva e familiar, com outros profissionais advindos de minha formação.
Comecei estudando os autores ligados a psicomotricidade e depois fiz grupos de estudo de Lowen, Melaine Klein, Jung. Fiz também um estudo de linguagem não verbal por vários anos e atualmente continuo a estudar, porque acho que um bom referencial teórico é importante, e a fazer supervisões que permitem analisar a prática desses referenciais. Estou terminando um grupo de estudo sobre Freud e sua obra completa. Por isso acredito que quando busquei a Psicanálise para entender a estrutura da personalidade, eu já tinha um bom referencial teórico.

Qual a importância para o profissional da psicopedagogia o trabalho pessoal? Por quanto tempo se deve fazê-lo?
O trabalho pessoal a meu ver é necessário e eu questiono se não seria também fundamental. Acredito que o tempo de terapia ou de psicanálise dependerá de vários fatores, e que é onipotente um profissional querer determinar sua exata duração. Na verdade o tempo irá depender das características de cada pessoa. Assim percebe-se porque é difícil determinar o tempo exato para o trabalho com qualquer um de nossos pacientes.
O essencial é que nós profissionais nos conheçamos bem para saber como lidar com nossa clientela. Quem não passa por um processo terapêutico dificilmente conseguirá entender o ser humano na sua essência. Eu percebo também que a supervisão é indispensável ao longo do trabalho. Você precisa reconhecer no seu dia-a-dia, por exemplo, o que é uma identificação projetiva e não apenas conhecê-la na teoria. Isso é um trabalho que requer grandes investimentos, mas é sem dúvida nenhuma o que diferencia um profissional qualificado dos demais sendo por isso extremamente necessário.
Outra questão que sempre vejo quando se discute esse tema é a reflexão sobre a possibilidade de fazer psicanálise em grupo. Ao meu ver, se estivermos na busca individual do conhecimento mental e de suas organizações, não é possível que o alcancemos com um trabalho em grupo. Mas isso é tema para uma discussão posterior em outra entrevista.
Quais são os problemas de aprendizagem mais comuns observados por você?
Cada ano que passa, percebo que tanto a criança como o adolescente e o adulto apresentam uma configuração muito mais complexa de suas dificuldades de aprendizagem. Acredito que isto esteja ligado aos atuais problemas sociais, ao emocional, ao cognitivo, e não exclusivamente ao psicopedagógico. Essa dificuldade também abrange o uso da auto imagem. É devido a isso que, para mim, os problemas de aprendizagem, e portanto as dificuldades cognitivas geralmente não vêm desvinculadas da problemática emocional.
Percebo também que as dificuldades de se vincular com os conhecimentos de modo geral podem ser também uma conseqüência da dificuldade de lidar com as pessoas. A curiosidade pelo desconhecido é inata no ser humano, todo mundo se mostra curioso com o novo, e a criança que não tem curiosidade, que se mostra "preguiçosa", certamente tem alguma coisa que não está adequada.

Qual a responsabilidade da escola no quadro atual?
A escola deverá se preocupar com a formação do aluno e com a cultura que ele está inserido. Para tal, deverá também estar sempre atenta ao ritmo de aprendizagem de cada um de seus alunos. Percebo que algumas escolas estão muito preocupadas com o conteúdo. Acredito que isso seja uma conseqüência da sociedade que vivemos, cada vez mais competitiva. As escolas não deveriam se esquecer do ritmo de aprendizagem da criança, da boa estrutura do pensamento, da lógica no raciocínio e da utilização de uma linguagem cada vez mais adequada para ser usada ao longo da vida. Com esses pré-requisitos qualquer pessoa poderá se aprofundar no conhecimento que quiser, respeitando-se suas individualidades e seus diferentes talentos. A melhor instrumentalização para tudo isso, é o papel que a escola deverá desempenhar.
Generalizando, podemos dizer que normalmente não são as escolas que são fortes ou fracas, adequadas ou inadequadas, como muitos gostam de rotular, mas na verdade cada criança, cada família, necessita de um tipo de escola. Cada pessoa tem um perfil, assim como a escola.

Qual o papel do psicopedagogo na orientação de escolas para o paciente?
O papel do psicopedagogo é evitar o troca-troca de escola que é a princípio contraproducente. É preciso buscar a escola correta para determinado paciente e para isso a orientação familiar é básica, principalmente na questão dos valores que esta família tem, no que ela acredita.
É necessário que se faça uma análise deste paciente para saber se a escola está adequada à família e vice-versa. Vejo casos de famílias que acabam colocando o filho em escolas com valores opostos aos seus, o que é prejudicial. Aproximadamente aos 11 anos de idade, a criança passa por uma época em que se refaz o complexo de Édipo e, portanto, se reorganiza sua personalidade. É também nesta época, que as escolas deixam de respeitar o ritmo individual de seus alunos, acreditando que eles estão mais aptos a terem um ritmo social de aprendizagem. Essa etapa deverá ser vista com bastante cuidado tanto pela família quanto pela escola.
Quando esta etapa não ocorre com tranqüilidade, e as escolas percebem que as crianças não estão aptas ao ritmo social de aprendizagem, aparece o momento em que o psicopedagogo deverá interferir.

Ana Lisete Frontini Pereira Rodrigues - Pedagoga e Psicopedagoga formada pelo Instituto Sedes Sapientiae. Formação Psicanalítica. Desenvolve trabalho clínico. Vice-Presidente da ABPp 1992/1994. Diretora Cultural e Conselheira da ABPp 1999/2000 Ana Lisete Frontini Pereira Rodrigues

domingo, 3 de abril de 2011

Doenças psicossomáticas

O QUE SÃO DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS?

Poderíamos dizer ,que um fatôr emocional afeta o equilíbrio afetivo,gerando um desequilíbrio.
Quando nos desequilibramos afetivamente,afetamos o tônus vascular;o das vias respiratórias por exemplo,aonde se alojam bactérias e/ou vírus,o que nos faz desenvolver resfriados constantes,por exemplo.
Então,dizemos que os estados emocionais interferem na resistÊncia de nosso organismo,que estando em baixa,"abre as portas"para a instalação de doenças. Daí,a somatização e as doenças psicossomáticas.
Para que possamos rotulalas dessa forma,há a necessidade de se estabelecer uma relação entre o conflito existente e a doença. Até na´própia
formação desta.
Não podemos dizer,que conflitos não provocam manifestações somáticas.
O sistema nervoso exerce poder sobre a imunidade orgânica,daí,o se dar uma importância muito grande para o "stress".
As pressões ,as "agressões" sofridas pelo meio ambiente externo,desencadeiam no indivíduo uma tensão constante. Essa constância,pode levar à produção de transtornos no funcionamento do organismo,(transtornos crônicos) e, depois,à uma lesão orgânica,como no caso de úlceras e gatrites.
A Psicanálise,nos permite compreender estes transtornos,à partir da análise da relação do indivíduo com o meio ambiente social,por exemplo,estudando o papel das frustrações por carência afetiva precoce.
É necessário que se stente para o fato de não podermos ngar as alterações que sentimos em nosso organismo no dia a dia.
Não podemos simplesmente afirmar que o sujeito está "chamando a atenção",que é apenas psicológico,que este nada têm,só quer estra em evidência.
Precisamos cada vez mais de informações sobre o quanto o emocional interfere em nosso organismo.
Não devemos simplesmente rotular o outro e assimilar as idéias que o senso-comum nos traz.
Informen-se,questionem,leiam.
Tudo isso leva ao conhecimento,ao aumento de cultura adquirida e um "olhar respeitoso ao próximo" !!!!!!!!!!!!!
Ao usar este artigo, mantenha os links e faça referência ao autor:
O QUE SÃO DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS? publicado 14/03/2011 por Thais De Vincenzo Schultheisz em http://www.webartigos.com/



Fonte: http://www.webartigos.com/articles/61277/1/O-QUE-SAO-DOENCAS-PSICOSSOMATICAS/pagina1.html#ixzz1IW2FVNfZ

PSICOPEDAGOGIA: EM BUSCA DO SUJEITO AUTOR

                                           Somos todos anjos de uma asa só, e só podemos
                                           alçar voo se estivermos abraçados uns aos outros.
                                                                                                (Léo Buscáglia)


             O sujeito autor é aquele que constrói a autoria não só por conteúdos acadêmicos e,sim, aquele que se autoriza a construir e conduzir a sua própria vida,tendo como base seus valores primeiros.O sujeito com autoria que se institui e se faz presente por meio de um "corpo " que sente, existe, ama e proclama sua liberdade de ser, de estar e viver no eterno presente , no eterno agora.
                                  Fernandez define autoria como       
                                  o processo e o ato de produção de sentidos e de reconhecimento de              
                                  si mesmo como protagonista ou participante de tal produção.(...) um sujeito   
                                  que não se reconheça  autor pouco poderá manter sua autoria.(2001:90)
          Para a autora, o sujeitoque não é capaz de manter sua autoria não poderá ser responsável por ela e tampouco compartilhá-la. Ainda , autoria de pensamento é condição para autonomia do sujeito e ambas (autonomia e autoria) se alimentam mutuamente em relação a reciprocidade.
          Portanto, pensamos que o ser humano que faz sua autoria se humaniza e não se maquiniza. Decide viver por meio do seu próprio olhar, do seu próprio viver, do seu próprio criar.Edifica sua vida com arte porque esta arte/vida é fruto do seu próprio sonho. Morin nos diz que
                                   o indivíduo humano pode dispor da consciência de si, capacidade de se considerar como objeto sem deixar de ser sujeito. o pleno desenvolvimento do pensamento comporta sua própria reflexibilidade: a consciência pode atuar sobre o ser humano refletindo sobre si mesmo, ou atuar sobre o próprio conhecimento, tornando-se conhecimento do conhecimento.(2002:39)
    Fernandez (2001) anuncia que a autoria de pensamento é algo imprescidível  para que o sujeito seja conectado com a condição humana mais valiosa de liberdade. E, somente um trabalho psicopedagógico  com mestres, professores e profissionais da educação poderia levar à construção de laços de solidariedade que possibilitassem alguma autoria de pensamento e autonomia que hoje não faz parte do cotidiano pedagógico. Consequentemente,os alunos teria na escola um espaço de reflexão e construção de sua própria autoria e autonomia.
     Corroboramos com pensamento da autora e entendemos que a nossa proposta consiste em um dos pilares do trabalho psicopedagógico sugerido por Fernandez. Nosso trajeto pessoal  nos leva a afirmar que, para que esta autoria floresça ou ao menos seja dado um primeiro passo em sua busca,devemos tomar o caminho da ressignificação dos valores do professor.
      Observa-se que , se olharmos para nossos valores, perceberemos que eles nos fazem confessar de onde viemos, onde estamos, para onde desejamos ir e o que desejamos ser.

                                                         Bibliografia(Extraído livro: De Professor a Educador)
                                                         ALVES Maria Dolores Forte

.O bom professor

O sábio confúcio estava meditando à sombra de uma árvore, quando foi interrompido por alguns de seus discípulos que queriam lhe fazer perguntas. "Oque é um bom professor?, questionaram. Confúcio
respondeu: " O bom professor é o que examina tudo aquilo que ensina para os seus alunos . As ideias antigas não podem escravizar o pensamento do homem,porque elas se adaptam e ganham novas formas.Então, tomemos a riqueza filosófica do passado,sem jamais perder de vista os novos desafios que o mundo presente nos propõe.

                                          MAKTUB
                                          PAULO COELHO